Título: PT não tem projeto de governo, só de poder, dizem Alckmin e Aécio
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A7

Os governadores tucanos Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, disseram ontem que o governo do PT não teve e nem tem um projeto de governo, mas sim de poder. Durante uma entrevista coletiva em São Paulo, durante a qual trocaram elogios e mostraram que estão cada vez mais afinados em relação às próximas eleições, os dois enfatizaram que têm projetos de desenvolvimento para o País, que vão muito além do projeto de poder petista. "Não é um projeto de poder apenas, como esse que está em curso e está dando no que estamos vendo", enfatizou Aécio. "Nós temos um projeto de país, projeto de interiorização de desenvolvimento, de articulação com as diversas cadeias produtivas da nossa economia, um projeto de tornar esse país mais próspero e socialmente mais justo."

Alckmin disse que fica cada vez mais claro para a sociedade "o conjunto de equívocos" que o governo federal estaria cometendo. "A gente fica triste de ver o Brasil perdendo oportunidades quando nós temos uma liquidez internacional que é a melhor dos últimos 70 anos, o mundo todo crescendo fortemente e o Brasil lá atrás, perdendo a oportunidade de ter um crescimento sustentado e forte."

Como fazem quase sempre, os dois disseram que ainda é cedo para falar da corrida presidencial, tema que só deverá ser tratado pelo PSDB em 2006. Mas não dissimularam que, dada a largada, serão parceiros. No encontro, durante uma cerimônia na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), uma das coisas que mais chamaram a atenção foram os elogios que eles trocaram.

GENEROSO

"O Alckmin é das mais brilhantes figuras da vida pública nacional", disse Aécio. "Tenho por ele uma enorme admiração e absoluta certeza de que temos responsabilidades comuns para a construção desse País".

O governador paulista não foi menos generoso. Enfatizou que Aécio realiza um bom governo em Minas e chamou-o de "uma das melhores vocações da vida pública brasileira".

Diante de uma pergunta que relacionava o prefeito José Serra à corrida presidencial, Alckmin foi diplomático: "O Serra é um grande nome. É bom para o PSDB ter bons nomes, como Aécio Neves."

O governador mineiro, indagado sobre a possibilidade de concorrer à presidência, deu a entender que sua preferência deve recair sobre Alckmin: "A candidatura à Presidência da República não pode ser um projeto pessoal. Surgirá no momento adequado a candidatura do PSDB, com força e com um projeto para o Brasil. E é claro que o governador Geraldo Alckmin é um membro do partido e um dos brasileiros mais preparados e em melhores condições para enfrentar esses desafios."

Aécio não fez referências ao nome de Serra. Mas não se cansou de realçar as qualidades de Alckmin e a afinidade que os dois têm no trabalho de governar: "Os governos de Minas e de São Paulo estão fazendo uma troca de informações permanente, algo que jamais foi feito na nossa história."

Lembrou que Alckmin esteve recentemente em Minas, para tratar da integração das empresas de processamento de dados dois Estados: "Eu acho que é isso que está faltando no Brasil, compartilhar as informações para construir caminhos comuns."

TRABALHAR

Os dois tucanos participaram da posse do conselho gestor do recém-criado Centro de Inteligência do Café (CIC), uma iniciativa do governo mineiro, que tem o objetivo de atuar como um órgão consultivo e técnico, em nível nacional, para a cafeicultura. Segundo Aécio, o CIC é mais um exemplo do esforço de integração de esforços na articulação das cadeias produtivas, apesar da crise política.

"Agora é hora de trabalharmos. O que não podemos é deixar que a crise política contamine o ambiente brasileiros e nós, governantes."

Na opinião de Alckmin, o CIC suprirá um vazio que teria restado no cenário econômico após a extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC): "Nós vivemos hoje uma economia globalizada e muito rápida. O CIC é um instrumento necessário, uma alavanca para você ter rentabilidade no setor, conquistar novos mercados, melhorar a qualidade e agregar valor."

Para o governador paulista, trata-se de uma semente em um setor importante da economia nacional: "A cadeia produtiva do café é importante sob o ponto de vista do emprego, renda e trabalho."

Depois da cerimônia, os dois tucanos foram almoçar no Restaurante Gigetto, no centro da cidade.