Título: Dirceu acusa Tarso de covardia
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - O ex-chefe da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) decidiu comprar a briga e avisou ontem que não vai retirar seu nome da chapa do Campo Majoritário que concorrerá ao Diretório Nacional do PT. A reação de Dirceu provocou o recuo do presidente do partido, Tarso Genro, que dera um ultimato ao deputado. Tarso havia dito que desistiria de disputar o comando do PT, na eleição de 18 de setembro, se Dirceu não saísse da chapa até hoje. Na noite de ontem, porém, voltou atrás: garantiu que vai refletir melhor sobre o assunto, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É uma vilania o que Tarso está fazendo comigo", afirmou José Dirceu ontem. "Uma covardia." O ex-ministro disse que seu colega de partido apelou para o "prejulgamento" de sua conduta. "Se me tiram do PT, como vou defender o meu mandato?", perguntou, com os olhos marejados. "Nem na Câmara fizeram isso comigo."

Depois de uma reunião com prefeitos e deputados do PT, à noite, Tarso adotou outro tom. "Em momentos de tensão, calma e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Eu não dei ultimato ao deputado José Dirceu e tenho profundo respeito por ele", amenizou o presidente do PT. "Precisamos discutir o caráter da chapa e a natureza da transição: se com mais conservação ou com uma ruptura exposta, mas que não significa prejulgamento nem a desonra de ninguém, principalmente de companheiros que já prestaram serviços importantes ao PT, como José Dirceu."

Foi o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que transmitiu a Tarso as ponderações de Lula e pediu-lhe para não se precipitar. O senador também conversou com Dirceu, que reclamou da humilhação a que vem sendo submetido pela cúpula do PT. "Vou propor uma conversa entre os dois para ver se encontramos uma solução", afirmou o líder, que tenta mediar o acordo.

"O circo está armado. Não sou homem de aceitar ultimatos. Eu não mereço isso", insistiu Dirceu, que presidiu o PT de 1995 a 2002 e foi fiador das alianças que levaram Lula ao Planalto. Hoje, o ex-chefe da Casa Civil enfrenta processo de cassação na Câmara, acusado de ser o mentor do mensalão.

FACA NO PESCOÇO

Na prática, a queda-de-braço entre Dirceu e Tarso ameaça o Campo Majoritário, que hoje detém 60% do Diretório Nacional. Mas o grupo moderado não corre apenas o risco de perder a eleição com voto dos filiados. A vitória de qualquer candidato da esquerda petista será uma faca no pescoço do governo.

Atualmente, há sete postulantes à presidência - cinco de esquerda. Nenhum deles aceita a política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Estão bem posicionados na disputa Plínio de Arruda Sampaio e Valter Pomar.

"É reducionismo achar que a disputa do PT é entre um bando de puros e um de bandidos. Eu não sou bandido", disse o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT). "O que está em jogo não é o PT e a crise. É o governo."

Dirceu afirma que Tarso não representa o programa do Campo Majoritário, a corrente de Lula. Motivo: o ex-ministro da Educação também já fez duras críticas à política econômica e disse que Lula não deveria se candidatar à reeleição. "O problema não sou eu. O problema é que o programa defendido pelo Tarso não é o nosso", argumentou Dirceu. "Ele quer outra política econômica, outras alianças, acha que o governo acabou e é contra a reeleição do Lula. O Campo Majoritário concorda com isso? O Palocci concorda com isso?", questionou.

"Essa eleição no PT acontece em hora muito ruim", admitiu ontem o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner. Se Tarso desistir, o Campo Majoritário deve lançar a candidatura do deputado Ricardo Berzoini (SP), atual secretário-geral do PT.