Título: Buratti não consegue adiar depoimento
Autor: Rosa Costa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A12

O advogado Rogério Buratti pediu à CPI dos Bingos para adiar para a próxima semana seu depoimento, previsto para hoje, sob o pretexto de que está muito debilitado, física e psicologicamente. O pedido, apresentado pelo advogado Roberto Telhada, foi negado pela comissão, que não se convenceu dos argumentos, segundo informou o relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). "Ele alegou que estava com trauma da prisão e dos desdobramentos das revelações que fez em troca dos benefícios da delação premiada", contou, em Brasília.

O relator avisou a Telhada que o depoimento deve ser tomado no máximo amanhã, para não retardar os trabalhos da comissão. "Se ele insistir no adiamento, vamos mandar uma junta médica avaliar seu estado de saúde e, se for o caso, trazê-lo sob coação", disse. Buratti foi secretário da Prefeitura de Ribeirão Preto nos anos 90, quando era prefeito o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Desaparecido desde que foi libertado da prisão, na sexta-feira, em Ribeirão Preto, Buratti só foi localizado ontem pela Polícia Federal, após delicada negociação com seu advogado. Na semana passada, Telhada ameaçou rescindir o contrato depois que cliente aceitou o acordo de delação premiada e, sem seu aval, deu depoimento bombástico ao Ministério Público, em Ribeirão Preto, no qual acusou Palocci de ter recebido propina de R$ 50 mil mensais de uma empresa quando era prefeito.

SUMIÇO

A revelação causou tumulto na economia e a situação só se acalmou depois que Palocci fez um pronunciamento à Nação no domingo, rebatendo a denúncia. Curiosamente, o ministro poupou o ex-assessor e atribuiu seu gesto a um ato de desespero.

Investigado pela CPI dos Bingos e indiciado em inquérito sobre fraudes em licitações para coleta de lixo em municípios do interior paulista governados pelo PT, Buratti está impedido de deixar o País e é obrigado a comunicar às autoridades qualquer deslocamento. Depois de deixar a prisão, ele foi para Belo Horizonte, onde mora, mas no fim de semana sumiu.

Contatado pela PF, Telhada alegou que ainda estava propenso a deixar o caso e a princípio não quis colaborar com as buscas. Só depois de alguma insistência aceitou contar onde o cliente estava. A PF cercou imediatamente a clínica onde Buratti fazia exames, em São Paulo e, desde a tarde de ontem, mantém vigilância sobre ele.

Garibaldi acha que os cinco dias entre a libertação e o depoimento são suficientes para Buratti ter se recuperado de qualquer trauma psicológico. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e Marcos Valério, personagens centrais do escândalo do mensalão, nunca adiaram depoimentos por mais de 48 horas, lembra o relator. Além disso, nem Buratti nem seu advogado entregaram atestado médico mostrando o tipo de enfermidade que o impede de depor.

Na CPI dos Bingos, Buratti será questionado sobre sua participação na renovação de contrato de R$ 650 milhões entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech em 2003, para operação das loterias do País. Indicado pelo ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz para intermediar o contrato, Buratti teria cobrado comissão de R$ 6 milhões. Ele foi convocado pela CPI por ter dito, no depoimento ao Ministério Público, que tentou obter o apoio de Palocci para fechar o negócio.

Embora tente adiar o depoimento, Buratti deu mostras de que vai manter suas acusações e detalhá-las. Ontem, em Ribeirão Preto, ele disse ao Ministério Público Estadual que está disposto a contar na CPI tudo o que sabe sobre as negociações da Gtech com a Caixa. Não deu, porém, detalhes do que revelará.

LOBISTA

O diretor de marketing da Gtech, Marcelo Rovai, acusa Buratti de tentar achacar a empresa em troca da renovação do contrato. Ele se defende, como antecipou o Estado, afirmando que na verdade foi procurado por Rovai para atuar como lobista para possibilitar a renovação do contrato por um tempo maior e com desconto menor do que se negociava. Buratti deve acusar, além dos executivos da Gtech, um suposto esquema montado por Waldomiro Diniz para viabilizar a renovação desse contrato pelo maior valor possível.

Outro dado que será confirmado, mas sem provas, será a acusação de que grupos de empresários de bingo do Rio e de São Paulo contribuíram com dinheiro para a campanha de Lula em 2002. Ele afirmou à polícia que sabia que em São Paulo foi doado R$ 1 milhão, que teria sido repassado para o Diretório Nacional do PT. No caso da Caixa e da Gtech, Buratti vai declarar que o dinheiro negociado seria entregue ao PT e não ficaria com ele.