Título: Delcídio diz que direção dos Correios não ajuda CPI
Autor: Rosa Costa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), ameaçou ontem pedir a destituição de toda a diretoria da empresa estatal por obstrução das investigações da comissão sobre as supostas irregularidades nos contratos da empresa. Um grupo de quatro parlamentares foi ao encontro do novo presidente da estatal, Jânio Pohren, que assumiu o cargo em junho, para transmitir o ultimato e tentar chegar a acordo em torno dos requerimentos de informações da CPI. De acordo com o relatório gerencial que chegou às mãos de Delcídio, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem se atrasado na prestação de esclarecimentos, omitido informações e apresentado dados que "induzem a conclusões erradas". "Se essa situação não mudar, a CPI pode encarar isso como desobediência e pedir o afastamento de toda a diretoria dos Correios", disse Delcídio.

O endurecimento com a cúpula dos Correios foi apoiado por oposicionistas e governistas. "Precisamos dar um ultimato e, caso não dê resultados, pedir ao presidente da República o afastamento do presidente dos Correios", disse José Eduardo Cardozo (PT-SP). Os parlamentares suspeitam que Jânio Pohren e seus subordinados podem estar acobertando investigações de seus antecessores - João Henrique de Almeida Souza, que dirigiu a estatal entre março de 2004 e junho de 2005, e Airton Dipp, presidente da estatal no primeiro ano de governo Lula. "Pelo menos 38 contratos dos Correios estão sob suspeição", lembra o coordenador administrativo da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Além das dificuldades externas, a CPI enfrenta cada vez mais obstáculos internos que ameaçam a paralisar seus trabalhos. Ontem a oposição descobriu que o documento requerendo informações sobre os fundos de pensão à Secretaria de Previdência Complementar só foi encaminhado sexta-feira, quase duas semanas depois de aprovado pela comissão.

A oposição acusou Delcídio de elaborar agenda pífia de depoimentos esta semana. A oposição alegou que seria mais importante ouvir hoje o ex-ministro Luiz Gushiken do que Marcus Vinícius Vasconcellos, genro do deputado Roberto Jefferson.

A pressão dos oposicionistas surtiu efeito. Apesar de não ter desmarcado o depoimento de Marcus Vinícius, Delcídio antecipou para hoje de manhã a sessão administrativa para discutir a convocação de depoentes. Os integrantes da CPI dos Correios também deixaram claro a insatisfação por estarem perdendo espaço para as CPIs do Mensalão e dos Bingos. "Nossas cadeiras aqui estão vazias, enquanto as das outras CPIs estão cheias", reclamou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).