Título: Costa Neto diz que ajudou a pagar campanha de Lula com caixa 2
Autor: João DomingosLuciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A13

BRASÍLIA - O ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, afirmou ontem à CPI do Mensalão que recebeu R$ 6,5 milhões do caixa 2 do PT e usou todo o dinheiro para pagar material de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial de 2002. Segundo ele, o material foi distribuído em São Paulo e o dinheiro, repassado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza entre janeiro de 2003 e setembro de 2004. "A situação em São Paulo era difícil, Lula tinha vencido José Serra no primeiro turno por apenas cem mil votos. Tínhamos que entrar com força. Encomendei o material e o dinheiro foi gasto para pagar os fornecedores", disse Costa Neto, que renunciou ao mandato no início deste mês. Ele revelou que recebeu R$ 1,2 milhão em três cheques emitidos pela agência SMPB, em favor da empresa Guaranhuns e depois trocou os cheques por dinheiro. O resto, afirmou, foi entregue em espécie.

A fragilidade do depoimento, no entanto, está no fato de que Costa Neto não revelou nomes dos fornecedores. O ex-deputado disse não ter nenhum recibo dos pagamentos e não convenceu os parlamentares ao informar que as notas das entregas do material estavam no PT.

Com a revelação do uso de caixa 2 na campanha presidencial, Costa Neto confronta a alegação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de que o dinheiro repassado ilegalmente atendeu apenas aos diretórios estaduais do PT e de partidos aliados e que a campanha de Lula foi toda paga com dinheiro legalmente registrado. O próprio Delúbio já tinha admitido que pagou com caixa 2, também no segundo turno, a gravação para TV em que o ministro Ciro Gomes pediu votos para Lula.

"É a segunda vez que se fala em dinheiro não contabilizado na campanha do Lula. Antes, Delúbio dizia que usou caixa 2 para pagar todo mundo, menos Lula", disse o senador José Jorge (PFL-BA). Costa Neto respondeu: "Não estou dizendo que gastei o dinheiro na campanha do Lula para comprometer o presidente".

Ao citar a disputa presidencial como único destino dos R$ 6,5 milhões, Costa Neto procurou livrar os deputados do PL da suspeita de que o esquema de caixa 2 pagava mesadas aos parlamentares que apoiassem o governo. O presidente do PL negou a existência do mensalão.

"Resolvi investir no segundo turno e garantir que o PL estivesse no governo. Delúbio disse que eu fizesse as encomendas do material, porque ele estava cheio de dívida e não podia mais procurar os fornecedores."

A versão de Valdemar é que os R$ 6,5 milhões foram os únicos recursos recebidos pelo PL em 2002, já que no primeiro turno "o partido não recebeu nem um centavo do PT, apesar do acordo que tínhamos". O acordo, segundo Costa Neto, era de que o PL receberia R$ 10 milhões. Ele disse que o acordo foi fechado com o ex-ministro e deputado José Dirceu.