Título: Diante das câmeras, crianças foram as armas
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Internacional, p. A14

HOMESH, CISJORDÂNIA - A mãe, histérica, não consegue conter a raiva e o desespero e grita com os soldados que batem à sua porta para retirá-la de sua casa na colônia de Katif, na Faixa de Gaza. O filho de cerca de 3 anos começa a chorar. A mãe se agacha e ao invés de consolar a criança, sacode-a pelos ombros, aos berros, olhando sempre para a câmera: "Quando você crescer, não vai ser um soldado que expulsa judeus de suas casas! Ouviu!? Vai ser um bom judeu, não uma farsa travestida de soldado!" O garoto, mais assustado, chora mais forte, o rosto tomado pelo pavor. A cena, repetida inúmeras vezes pela TV israelense, exemplifica a polêmica no país nos últimos dias: qual é o papel das crianças na retirada da Faixa de Gaza? Psicólogos, educadores e pais em geral têm ido a público reclamar da utilização dos filhos pelos pais na intenção de sensibilizar o público quanto à suposta injustiça da retirada.

"Uma criança que perde sua casa já passa por trauma suficiente. Usá-la como arma de relações públicas é intensificar esse trauma e impedir que a ferida causada pela perda seja curada da forma rápida", analisa a psicóloga Shiri Dana. Associações de educadores estudam a possibilidade de levar à Justiça pais que tenham feito uso dos filhos durante a retirada.

Não é o que pensa a assistente social Adva Navé, que se identifica com os colonos e trabalhava em Homesh. Para Adva, crianças devem participar da vida familiar para o bem e para o mal. Ora Cohen concorda. Aos 9 anos, ela se tornou a melhor oradora da família quando se trata de falar mal da retirada de Gaza. "Soldados! Desistam se suas ordens! Não expulsem crianças como eu de casa!", gritava para todo soldado ou policial.