Título: Termina a resistência laranja
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Internacional, p. A14

HOMESH, CISJORDÂNIA - Apesar de alguns confrontos entre soldados e colonos israelenses, a resistência - que teve a cor laranja como símbolo - foi bem menor do que a estimada. O ritmo veloz da retirada forçada de 25 assentamentos, dos quais 21 na Faixa de Gaza e 4 na Cisjordânia, fez com que a ação ganhasse um apelido irônico: Guerra dos Seis Dias. Isso porque a missão foi completada em seis dias úteis (17, 18, 19, 21, 22 e 23). O apelido tem todo um simbolismo porque a Faixa de Gaza e boa parte da Cisjordânia foram ocupadas por Israel em 1967, durante o que ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias. A operação de ontem no norte da Cisjordânia não foi muito diferente do que aconteceu em várias colônias desde o dia 17 (a retirada de Gaza foi completada na segunda-feira). Durante toda a madrugada, ninguém conseguia entrar na colônia de Homesh. Meia dúzia de rapazes decidiu bloquear o portão do assentamento com arame farpado, cacos de vidro e uma tímida fogueira de pedaços de madeira, caixas de ovos e fragmentos de mobília. Em menos de 10 minutos, a polícia apagou o fogo, derrubou o portão e entrou no assentamento com a missão de desocupar o local até o fim do dia. Dito e feito.

À noite, Homesh, vizinha de grandes cidades palestinas, como Jenin e Nablus, era uma colônia vazia, bem como o assentamento de Sanur, a poucos quilômetros. Apenas 11 pessoas ficaram feridas sem gravidade nos enfrentamentos. Num piscar de olhos, duas comunidades deixaram de existir.

A ação rápida e pacífica surpreendeu as autoridades, pois esperavam em Sanur e Homesh a resistência mais violenta na operação de retirada. Em Homesh, por exemplo, cerca de 40 ativistas - nenhum deles moradores originais da colônia - se entrincheiraram no telhado do centro de estudos religiosos (Yeshivá), envolvido por arame farpado. Eles planejavam atrasar o quanto pudessem a remoção do assentamento jogando tinta, ketchup, óleo, ovos e outros ingredientes contra os policiais presentes. Mas não foram páreo para a eficiência da Polícia de Fronteira israelense, determinada a acabar com a ocupação o mais rápido possível. Alguns policiais chamaram a atenção dos jovens para um dos lados do prédio, enquanto no outro dezenas de policiais subiam na laje com ajuda de escadas.

A estratégia, simples e eficaz, acabou com os planos dos manifestantes em minutos e levou à detenção de dezenas de rapazes. Ninguém imaginava que a retirada aconteceria tão rápido. No dia 14, o ministro da Defesa, Shaul Mofaz, estimou em três semanas o tempo necessário. As condições pareciam adversas demais, mas ficaram apenas nas aparências. A pressão política para que tudo terminasse rapidamente foi mais forte. "Nosso objetivo era cumprir a missão o mais rápido possível com o menor número de feridos nos dois lados. Usamos de sensibilidade quanto aos colonos que perderam suas casas, mas também agimos com dureza perante os milhares de adolescentes que se infiltraram para atrapalhar a retirada", disse o inspetor-chefe da Polícia Shai Ytzikovitz.

De agora em diante, o foco passa a ser a demolição das casas dos colonos e a transferência de controle da Faixa de Gaza para a Autoridade Palestina. O chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o general Dan Halutz, afirmou ontem que isso vai ser feito o mais rápido possível. A intenção de Halutz é a de passar a Faixa de Gaza aos palestinos ainda em setembro.

A retirada israelense, cujo nome oficial é "Plano de Desengajamento (dos palestinos), foi decidida 18 meses atrás pelo primeiro-ministro Ariel Sharon com o objetivo de reduzir os confrontos com os palestinos e reduzir a área de ação do Exército israelense. Ao mesmo tempo, Sharon tem dito que pretende manter o controle dos grandes assentamentos onde vive a maioria dos 450 mil colonos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Palestinos moradores de vilarejos próximos de Sanur e Homesh observaram com binóculos a operação e celebraram distribuindo doces nas ruas. Num dos poucos incidentes envolvendo militantes palestinos, franco-atiradores dispararam contra soldados que patrulhavam a área. Na troca de tiros, um palestino ficou ferido.