Título: Pastor pede a morte de Chávez
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Internacional, p. A16

WASHINGTON - O televangelista Pat Robertson, um dos arautos da ultradireita religiosa nos EUA, defendeu ontem o assassinato do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e deixou o governo do presidente George W. Bush numa posição incômoda. Questionado a respeito, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, que pregou o isolamento do líder venezuelano em viagem que fez na semana passada ao Paraguai e Peru, disse que seu ministério "não faz esse tipo de coisa" - o assassinato de líderes de outros países - porque "isso é contra lei". O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, classificou a declaração de Robertson de inadequada. Disse ainda que o reverendo - que é membro ativo do Partido Republicano, foi candidato nanico à Casa Branca em 1988 e importante cabo eleitoral de Bush em suas duas eleições - falou apenas em seu nome, como cidadão. Segundo o porta-voz, os EUA não têm planos para matar Chávez, a eliminação do líder venezuelano "não é a política do governo dos EUA" .

Washington, no entanto, não condenou frontalmente a declaração de Robertson, mesmo depois de um jornalista ter lembrado a McCormack, durante a coletiva diária no Departamento de Estado, que "em outros casos, quando um cidadão sugere o assassinato de um líder estrangeiro, vocês consideram a pessoa um terrorista".

Previsivelmente, Chávez - que partiu ontem de Cuba para a Jamaica - disse que "não sabe quem é" Robertson. O vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, afirmou que a resposta da Casa Branca a Robertson será um teste da credibilidade da política antiterrorismo dos EUA. O chanceler venezuelano, Ali Rodríguez, disse por sua vez que os comentários de Robertson constituem um "delito público" e as autoridades americanas devem castigá-lo.

O reverendo fez a declaração durante seu programa matinal The 700 Club na Rede de Transmissão Cristã, um império de telecomunicação que fundou e dirige, em Virginia Beach. Robertson disse que, sob Chávez, a Venezuela, que tem faturado rios de dinheiro vendendo petróleo a mais de US$ 60 o barril para os EUA, transformou-se em "base de lançamento para a infiltração comunista" e - incongruentemente - do "extremismo islâmico".

"Não sei sobre essa doutrina dos assassinatos", continuou, referindo-se à lei de 1976, durante a administração de Gerald Ford, que proíbe o governo americano de envolver-se na eliminação de líderes de outros países. "Mas se ele pensa que estamos pensando em assassiná-lo, acho que nós realmente deveríamos ir em frente e fazê-lo."

Segundo Robertson, seria uma solução mais barata do que os US$ 200 bilhões que os EUA já gastaram na guerra que iniciaram para tirar Saddam Hussein do poder no Iraque.