Título: Por um estágio, mil jovens enfrentam a fila cantando
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Mais de mil adolescentes de 16 e 17 anos amanheceram ontem na porta da Arteb, fábrica de faróis de carro de São Bernardo do Campo. Eles esperavam a distribuição das 800 senhas para participar do processo seletivo da empresa, que vai contratar temporariamente 18. Eles tentavam entrar na disputa por uma das vagas destinadas a jovens carentes do ABCD, cuja renda familiar não passe dos R$ 500. Os aprovados na seleção vão receber R$ 150 no primeiro ano, além de benefícios como vale-transporte e alimentação, uniforme e material para participar do curso técnico. O salário sobe para R$ 690, caso sejam efetivados futuramente.

O primeiro da fila era Fábio Fagno, de 16 anos. Ele já pensava em se inscrever desde o ano passado. "Mas ainda não estava na idade." Chegou na porta da Arteb no domingo às 18 horas. Sua vizinha, Rita de Cássia Souza de Oliveira, era a segunda. "A gente fez um revezamento. Agora que falta pouco tempo, ficamos os dois aqui."

Os jovens conheciam gente nova e bebiam refrigerantes. Lá pelo meio da fila, uma rodinha formou-se em volta de Elvis Paulo Nunes. Com um violão, ele tocava Lugar ao Sol, do grupo Charlie Brown Jr. "Nem sei de quem é essa viola. Foi passando de mão em mão e chegou em mim."

GRANDE PRÊMIO

A oportunidade de trabalho temporário no autódromo de Interlagos atraiu cerca de 2 mil pessoas à Avenida Interlagos, em São Paulo, na manhã de ontem. A maioria, porém, chegou bem antes. "Estou esperando desde domingo", disse a desempregada Gisele Oliveira, 21, que dormiu duas noites na rua.

A empresa responsável pelas contratações informou que só 600 pessoas ocuparão as vagas de controlador de acesso e limpeza. Os temporários trabalharão por um mês nos preparativos do Grande Prêmio de F-1, no dia 25 de setembro. Eles receberão R$ 436. Das 2 mil pessoas que foram ao autódromo para retirar a senha, só 800 conseguiram preencher a ficha de inscrição, distribuída até as 12 horas.

Tatiane dos Santos, desempregada desde 2002 estava esperançosa. "Preciso muito desse dinheiro."