Título: Inflação cai e eleva salário em 1,8%
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

A forte queda da inflação nos últimos meses permitiu uma recuperação na renda do trabalhador ocupado na Região Metropolitana de São Paulo, depois de vários meses de estagnação. De acordo com pesquisa divulgada ontem pelo convênio entre a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), o rendimento médio real dos ocupados aumentou 1,8% em junho (último dado disponível), na comparação com maio, passando de R$ 1.024 para R$ 1.040. Boa parte desse crescimento é resultado da queda da inflação no período, explica Francisco Oliveira, coordenador de Pesquisas do Dieese. Para o cálculo da evolução da renda real, os salários são corrigidos pelo Índice do Custo de Vida (ICV), apurado em São Paulo pelo Dieese, que apresentou deflação de 0,17% em junho.

Além de favorecido pela inflação, o aumento do rendimento médio real decorreu também do reajuste do salário mínimo, a partir de maio (recebido em junho), e da expansão das contratações com carteira assinada, em detrimento do emprego informal. Os principais beneficiados pelo aumento da renda foram os assalariados da indústria (2,9%) e os trabalhadores autônomos (0,4%).

Na comparação com junho do ano passado, no entanto, a renda dos ocupados ainda mostra queda de 1,4%. Para o coordenador do Dieese, ainda é cedo para se afirmar que a reação esboçada em junho caracteriza uma tendência, apesar da deflação de 0,17% também em julho, que pode resultar em novo ganho dos rendimentos.

A queda dos preços continua. Ontem, a Fundação Getúlio Vargas informou que o Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) foi de -0,33% no período encerrado em 22 de agosto, o mais baixo de toda a sua série histórica, iniciada em janeiro de 2003 (ver página B3).

DESEMPREGO

Apesar do aumento na renda, a taxa de desemprego permanece estável há quatro meses na Região Metropolitana de São Paulo. Em julho, atingiu 17,5% da População Economicamente Ativa (PEA), repetindo o resultado de abril, maio e junho.

Mesmo assim, o número de desempregados aumentou para 1,765 milhão de pessoas - 8 mil a mais do que em junho. Foram criados 36 mil postos de trabalho no mês passado, insuficiente para absorver as 44 mil pessoas que passaram a procurar emprego. Esse movimento fez crescer a PEA.

De acordo com Sinésio Pires Ferreira, diretor de Produção e Análise de dados da Fundação Seade, o desemprego já deveria estar em queda nessa época do ano. "Isso não está acontecendo porque as empresas estão muito cautelosas e evitam elevar a produção e os investimentos". Esse comportamento é motivado, segundo ele, pela manutenção da taxa básica de juros em nível elevado e pelas incertezas sobre a economia, alimentadas pela crise política.

Apenas um único setor da economia abriu novas vagas em julho - o de serviços. As empresas prestadoras de serviços criaram 85 mil empregos. Já as indústrias fecharam 35 mil postos, o comércio demitiu 11 mil pessoas e a construção civil e o emprego doméstico eliminaram 4 mil ocupações.

A Metropolitan Logística, por exemplo, já fez 268 novas contratações desde o início do ano, das quais 92 foram efetivadas em junho. A empresa, que presta serviços para a indústria de eletroeletrônicos e celulares, cujas vendas foram beneficiadas pelo aumento da oferta de crédito, emprega hoje 850 pessoas e tem planos de chegar a 1.000 até dezembro. "Nosso faturamento aumentou 20% no primeiro semestre, em relação a igual período do ano passado", diz o diretor-executivo Cristiano Baran.

Já as empresas de setores que dependem da renda corrente dos consumidores enfrentam dificuldades. Em junho, a massa de rendimentos dos ocupados apresentou queda de 0,6% em relação ao mesmo mês de 2004.