Título: Carteira livre é a maior em 4 anos, diz Cypriano
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Presidente da Febraban anuncia que saldo de empréstimos em junho foi de R$ 305 bi

O presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) e do Bradesco, Marcio Cypriano, está mais do que satisfeito com o desempenho do crédito e com a resistência da economia brasileira à crise política. A carteira de crédito livre dos bancos atingiu em junho a maior marca dos últimos quatro anos na contratação de financiamentos. Entre pessoas físicas e jurídicas, o saldo dos empréstimos somou R$ 305 bilhões, um crescimento de 22% em relação a junho de 2004. De acordo com o empresário, o crescimento só não é maior por falta de demanda. Ele ressalta que os resultados do relatório de crédito do Banco Central (BC) de julho, que mostram crescimento da carteira de crédito total, estão em linha com o desempenho da carteira livre de financiamentos dos bancos apurada até o mês passado. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. vê o grande crescimento da contratação do crédito livre em junho?

A contratação do crédito livre bateu o recorde dos últimos quatro anos. Na pessoa física, somou R$ 136 bilhões o saldo de junho, com alta de 37% ante 2004. Na pessoa jurídica, o saldo foi de R$ 169 bilhões e o crescimento atingiu 12% ante o mesmo mês do ano passado. Isso mudou o patamar do crédito em relação ao PIB, de 27,8% para 28,2%, com aumento de 0,4 ponto porcentual. Hoje os bancos só não emprestam mais por falta de demanda.

A que se deve essa explosão do crédito livre diante do elevado juro básico?

Esse aumento reflete a grande distribuição de crédito por meio de financiamentos a lojistas, crédito com desconto em folha de pagamento, cujas taxas são mais baixas e que têm pouca influência da taxa básica de juro. No caso do consignado, os juros variam entre 2,7% e 3% ao mês.

Há risco de um aumento na inadimplência?

É pequeno porque, no caso do crédito consignado, há inadimplência se ocorrer morte.

Qual a previsão de crescimento da carteira livre para este ano?

No caso do Bradesco, entre 22% e 25%. No ano passado foi de 18%. A taxa de crescimento poderia até ser maior se não fosse a baixa apreciação do real por conta da carteira de operações 63.

Para este ano qual a perspectiva para o PIB?

Estamos trabalhando com uma taxa de crescimento entre 3,8% e 3,9%. Nossa previsão está acima da do governo. Estamos otimistas porque as pesquisas mostram que os empresários continuam investindo.

O sr. vê algum risco de a crise política interferir na economia?

Pela primeira vez a crise política não atrapalha a economia, hoje está havendo uma separação porque o Brasil tem bons fundamentos econômicos. Os investimentos estão ocorrendo, o saldo comercial é expressivo. Isso dá sustentação apesar da crise política. Antigamente, as crises políticas mexiam com a economia.

Quando o sr. acha que o Banco Central vai começar a reduzir o juro básico?

Eu imaginava que a taxa começaria a cair em agosto. Acho que a redução vai começar assim que houver mais estabilidade.