Título: Crédito bancário ignora crise e mantém expansão
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Em julho, operações de financiamento cresceram 1,6% e prazos estão mais longos; procura continua alta em agosto e até o dia 11 aumentou 1%, segundo BC

BRASÍLIA - A crise política não foi suficiente para desestimular consumidores e empresários a tomarem empréstimos bancários. Os dados divulgados ontem pelo Banco Central revelaram que, só em julho, as operações de financiamento aumentaram 1,6%. "O mercado de crédito está passando absolutamente longe de toda essa crise", disse o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes. Esse comportamento, segundo o chefe do Depec, demonstra a confiança da população e dos empresários na estabilidade das condições econômicas no médio e longo prazos. Tanto é que as operações de crédito estão com prazos mais longos. No caso das pessoas físicas, aumentou de 195 para 202 dias e atingiu sua maior marca desde julho de 2001. O prazo dos empréstimos às empresas aumentou, no mesmo mês, de 300 para 305 dias e alcançou seu nível mais elevado desde janeiro de 2003.

A procura por crédito continuou elevada em agosto. Até o dia 11, os empréstimos tiveram alta de 1%. O aumento também foi impulsionado pelas compras de carteiras de crédito de empresas do comércio varejista por instituições financeiras. "É um movimento que temos visto recentemente e tem provocado um crescimento dos empréstimos para a aquisição de bens." O bom desempenho dos empréstimos com desconto em folha também foi apontado como explicação para a manutenção da procura por crédito. Em julho, o estoque dessa modalidade de empréstimo chegou a R$ 19,683 bilhões.

O aumento da procura por empréstimos veio acompanhado de um barateamento dos custos de tomada de recursos ao sistema financeiro. Em julho, a taxa de juros recuou 0,2 ponto porcentual e passou dos 49% de junho para 48,8% ao ano. O movimento foi mais uma vez impulsionado pelas compras de carteira de crédito das empresas de comércio varejista. "Geralmente, os juros cobrados por estas empresas são mais baixos do que os verificados no mercado", disse Lopes, ao destacar a boa qualidade destas carteiras. "A inadimplência é baixíssima." Nos primeiros 11 dias de agosto, a taxa voltou a recuar e bateu os 48,1% ao ano.

As empresas, segundo Lopes, têm usado o crédito para investimento e para recompor seus estoques. Nos investimentos, o chefe do Depec destacou o aumento de 4,1% dos repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em julho. Os setores que têm puxado a demanda por crédito do banco têm sido a agropecuária e as indústrias químicas e automotivas. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, destacou em seminário sobre infra-estrutura que a elevação dos repasses do BNDES é mais um indicador de manutenção dos investimentos do setor privado.

A elevação do crédito em julho, de acordo com Lopes, fez o valor das operações em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) atingir seu maior nível desde o início da série histórica, em junho de 2000. "O crédito livre de direcionamento atingiu os 16,5% do PIB." O chefe do Depec admitiu, no entanto, que o aumento pode ter sido influenciado pelo fato de o BC atualizar o cálculo do PIB estimado pelo IGP-DI. "Como esse índice vem apresentando deflação, o PIB tende a ficar menor e a proporção, em conseqüência, aumenta."