Título: Até o preço do cimento cai
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

FGV apura deflação em vários itens básicos da construção

A deflação está chegando aos materiais de construção por causa do fraco consumo e do dólar baixo. O Índice Nacional da Construção Civil - Disponibilidade Interna (INCC - DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) fechou julho com alta de 0,11%, a menor marca desde dezembro de 1998. Os preços médios dos materiais de construção que compõem o INCC encerraram o mês passado com variação positiva de apenas 0,01%, o índice mais baixo desde julho de 1998. "A deflação bate à porta do INCC", diz o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros. Ele observa que é raro o INCC ficar negativo porque a parcela de serviços que compõe o índice - e inclui o preço da mão-de-obra - tem reajustes pela inflação passada. Mas, no caso, a variação negativa das cotações está rondando os materiais de construção, cujos preços são livres.

Um levantamento feito por Quadros mostra que a deflação já chegou aos preços de itens básicos. No mês passado, o cimento caiu 2,24% e a cal hidratada, 1,83%. No rol da deflação estão os tubos e conexões de PVC (-2,43%), condutores elétricos (-1,21%), tubos e conexões de ferro e aço (-1%), entre outros.

O impacto da desaceleração dos preços dos materiais de construção já afeta o faturamento do setor. Números da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) mostram que o faturamento dos fabricantes caiu 9,59% entre janeiro e julho deste ano na comparação com o mesmo período de 2004, já descontada a inflação. "A demanda está fraca", observa o diretor da entidade, Roberto Zullino. O problema, argumenta, é que o setor vive de crédito e os juros estão muito altos.

Zullino destaca que a retração é maior em materiais de construção tidos como básicos, sinal de que as pessoas estão adiando reformas e a construção da casa própria. O indicador de vendas da Abramat aponta queda real de 10,65% no faturamento dos materiais de construção básicos entre janeiro e julho deste ano, ante o mesmo período de 2004. Nos itens de acabamento, o recuo foi de 4,8% no período.

"O mercado de materiais de construção está em recessão, com as empresas baixando os preços das mercadorias. O momento é bom para o consumidor", afirma o diretor de Marketing da Dicico, Carlos Roberto Corazzin.

Ele argumenta que, no caso do cimento e dos derivados de plástico, o que tem pesado para a queda de preços é o dólar baixo. Já para outros materiais básicos, o que tem influenciado a queda é a demanda fraca.

Para contrabalançar o enfraquecimento da demanda, a rede optou por abrir lojas e fazer promoções com o objetivo de conquistar a fatia de mercado da concorrência.Foi assim que a Dicico ampliou em 40% as vendas em julho, ante o mesmo período de 2004.