Título: A nova aposta da Petrobrás
Autor: CELSO MING
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

A Petrobrás está apostando em que encontrará enormes jazidas de petróleo e gás a grandes profundidades, de cerca de 7 mil metros abaixo do nível do mar. Acompanhe passo a passo a novidade, tal como explicada pelo diretor de Exploração da Petrobrás, Guilherme Estrela:

Ao longo de quase 3 mil quilômetros da plataforma continental brasileira (entre Alagoas e Santa Catarina) estende-se uma camada de depósitos de sal. Está situada a profundidades próximas dos 7 mil metros.

Sob peso colossal de rochas e água, essa camada está submetida a enormes pressões e, por isso, tende a deslocar-se para onde haja menor resistência - como pasta de dente que alguém aperta num tubo fechado.

Todo petróleo e gás encontrado até agora nessas plataformas (reservas próximas dos 10 bilhões de barris de 159 litros) está acima dessa camada de sal, a profundidades de cerca de 3 mil metros. São hidrocarbonetos que escaparam de onde estavam aprisionados mais abaixo, em conseqüência da movimentação mencionada dos depósitos de sal, e que acabaram encapsulados mais acima por outras rochas impermeáveis.

Nessa migração, o petróleo misturou-se a outros sedimentos. É por isso que a maior parte do petróleo brasileiro é mais pesada, considerada de qualidade inferior. Os geólogos sabem que esse petróleo aflorou de jazidas situadas abaixo da camada de sal porque a análise de sua composição geoquímica mostra esse DNA.

Com base no que acontece em outros cantos do mundo, os geólogos concluíram que debaixo desse sal deve haver muito mais petróleo do que o encontrado até agora no Brasil. A probabilidade da existência desses campos é maior nas áreas onde esses depósitos sofreram menos deformações, como é o caso da Bacia de Santos. Lá, a migração do petróleo para camadas de cima foi menor. Se for encontrado, esse petróleo deverá apresentar qualidade superior.

O poço pioneiro, o BM-S-10, destinado a desbravar essas novas fronteiras geradoras, está sendo perfurado na Bacia de Santos, a cerca de 200 quilômetros do Rio, projeto que a Petrobrás vai desenvolvendo em sociedade com a British Gas (BG) e com a portuguesa Partex. Como já foi noticiado, no dia 12 esse poço atingiu a profundidade recorde de 6,4 mil metros, já próxima da camada de sal.

A perfuração exige tecnologia avançada não só em conseqüência da profundidade, mas, sobretudo, da fortíssima pressão e das altas temperaturas. A geometria de perfuração requer condições especiais: diâmetro inicial muito maior do que um poço comum; uma broca especial dotada de turbina que gira apenas na extremidade e não ao longo do eixo de 7 mil metros; e fluidos para lubrificação de alto desempenho. Seu custo de perfuração é cerca de três vezes mais do que o de um poço convencional. Mas, se o resultado for o que esperam os geólogos, esse custo será considerado insignificante.

Pelo menos até o final deste ano, a análise do material retirado desse ponto indicará o quanto os geólogos estão corretos nas suas conclusões. As primeiras informações estão sendo guardadas a sete chaves não porque a Petrobrás já tenha obtido indícios seguros de petróleo, mas "porque envolve interesses de outros sócios".

Os geólogos trabalham com informações indiretas e muita interpretação. Só isso mostra como é preciso prudência na hora de realizar sonhos parecidos com os que tiveram os nossos antigos caçadores de esmeraldas. Paulo Boggiani, professor do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, do Instituto de Geociências da USP, e Sérgio Médici de Eston, professor titular do Departamento de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica da USP, não têm ligação com a Petrobrás. Mesmo levada em conta a necessária dose de cautela, eles entendem que é excelente a perspectiva de sucesso da nova empreitada.

Já dá para imaginar o rendimento político da novidade se a aposta desses geológos se confirmar.