Título: Eternit busca alternativas para o amianto
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

RIO - A Eternit, tradicional fabricante de telhas e caixa d'água de amianto, contratou uma consultoria para identificar novos nichos de atuação, com o objetivo de reduzir sua dependência do minério apontado como cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o presidente da companhia, Élio Martins, a missão da consultoria é encontrar outros mercados fora da cadeia do amianto, mas ainda no segmento de materiais de construção. "Temos uma marca forte nesse setor e gastaríamos menos com publicidade para lançar novos produtos", diz o executivo. Segundo ele, a Eternit tem pouco espaço para crescer nos mercados onde atua, já que lidera as vendas com 27% de participação. Martins admitiu, porém, que a decisão também é motivada por uma preocupação com o futuro dos produtos de amianto, que já são proibidos em alguns países, principalmente os desenvolvidos.

No Brasil, legislações estaduais proíbem o uso do minério no Rio, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Em São Paulo e Mato Grosso do Sul a proibição foi derrubada na Justiça pela associação dos trabalhadores da indústria, sob o argumento de que a competência sobre o assunto é do Legislativo federal. O presidente da Eternit reclamou que uma comissão interministerial criada no ano passado para discutir o assunto não chegou a nenhuma conclusão.

O setor negocia com instituições de saúde, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Escola Paulista de Medicina, a realização de uma pesquisa sobre os efeitos do amianto no Brasil, onde o minério movimenta um mercado de R$ 2 bilhões por ano. A Eternit tem contra si uma centena de ações judiciais pedindo indenização pelos danos causados pelo produto. Martins não detalhou o volume da provisão feita em balanço para possíveis perdas.

No segundo trimestre de 2005, a empresa vendeu 75,5 mil toneladas de amianto crisotila, com 65% das vendas voltadas para o mercado externo. O volume representa um crescimento de 14% sobre o mesmo período do ano passado, reflexo do aumento da demanda gerado pela reconstrução das áreas atingidas pelo tsunami, no final do ano passado.

A Eternit já produz caixas-d'água de polietileno, único produto fora da cadeia do amianto. Martins não quis dar um prazo para que o programa de diversificação dos negócios seja aplicado, pois dependerá do trabalho da consultoria.

A mina de amianto da companhia, em Goiás, tem vida útil de 55 anos.