Título: Preço do gás natural sobe dia 1.º
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & negócios, p. B5

Calcula-se que em São Paulo e Rio o aumento deverá ficar em torno de 18%

RIO - O preço do gás natural vai subir a partir de 1.º de setembro. A alta será maior para os consumidores do gás importado da Bolívia - os três Estados da Região Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul -, mas quem consome gás nacional também vai sentir no bolso. A Petrobrás informou ontem que decidiu pôr fim ao congelamento do preço do combustível, que dura mais de dois anos, em virtude do aumento de custos na importação e na produção do gás no Brasil. O repasse para o consumidor final vai depender de cada distribuidora de gás canalizado. Os aumentos serão concedidos em duas etapas. Para o gás boliviano, haverá um reajuste de 13% em setembro e outro de 10% em novembro, o que representa uma alta acumulada de 24,3%. A medida é necessária, segundo a empresa, para a recuperação de margens perdidas com os reajustes no contrato com a estatal boliviana YPFB, responsável pela venda do produto ao País. "O preço de aquisição do gás boliviano está vinculado a uma cesta de derivados de petróleo, que tem sofrido aumentos significativos nos últimos meses", informou, em nota, a estatal.

No caso do gás brasileiro, os aumentos serão de 6,5% e 5%, o que dá uma alta total de 11,8%. Aqui, a empresa justifica o reajuste com o aumento de custos na produção e transporte do combustível.

Todas as mudanças ocorrerão no dia 1.º de cada mês. Os preços do gás nacional e boliviano estavam congelados desde janeiro de 2003, dentro de uma estratégia de incentivar o consumo do combustível.

A estatal informou que o repasse ao consumidor respeita peculiaridades dos contratos de concessão de cada distribuidora. Algumas só podem reajustar seus preços na data de aniversário da concessão.

A Sulgás, que atende o Rio Grande do Sul, por exemplo, informou que vai absorver o aumento, sem repasse para o mercado. A empresa avalia que tem condições de suportar o impacto da alta por causa do câmbio, já que o real valorizado em relação ao dólar ameniza o reajuste.

O reflexo na inflação será pequeno, avalia a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências. Segundo ela, apenas Comgás e CEG, distribuidoras de São Paulo e do Rio, entram no cálculo do IPCA. Como consomem um mix de gás boliviano e brasileiro, o reajuste médio para as duas empresas será de 18%. Se for repassado integralmente ao consumidor, terá um impacto de 0,09 ponto porcentual no índice oficial de inflação.

Os aumentos chegaram a ser anunciados no mês passado, mas a empresa voltou atrás. Há uma preocupação no mercado com o crescimento da demanda pelo combustível no País, que corre o risco enfrentar uma crise de abastecimento a partir de 2007, segundo empresas do setor. A Petrobrás informou que mantém o compromisso com o desenvolvimento do setor e "vem aplicando recursos crescentes para aumentar e desenvolver as reservas já descobertas, descobrir novos reservatórios e elevar a oferta do gás natural produzido no País".