Título: Dólar ajuda turista a gastar mais
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Gastos de US$ 485,9 milhões de julho superam média mensal de 1998, ano considerado recorde pelo BC

Os gastos oficiais do turista brasileiro no exterior vêm crescendo mês a mês e atingiram US$ 485,9 milhões em julho. O valor é maior do que a média mensal de 1998, que foi de US$ 477,6 milhões. Naquele ano, os gastos com viagens ao exterior, registrados pelo Banco Central, atingiram a marca recorde de US$ 5,732 bilhões. No acumulado de janeiro a julho deste ano, a despesa do brasileiro lá fora já soma US$ 2,574. A principal explicação para os aviões lotados e aeroportos congestionados está no câmbio. Desde o início do ano, o dólar está 7,69% mais barato. Considerando os últimos 12 meses, a desvalorização da moeda americana ante o real é de 18%. "Do bilhete aéreo ao hotel, passando pelos gastos com alimentação, tudo ficou mais em conta", diz o diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Leonel Rossi Junior. O setor, que movimentou US$ 3,2 bilhões no ano passado, calcula um crescimento de 15% no volume de negócios este ano. De acordo com a Abav, as agências são responsáveis pela venda de 80% dos bilhetes e de 100% dos pacotes turísticos.

Apesar de terem aumentando a oferta de assentos disponíveis, há muito as companhias aéreas não exibiam taxas de ocupação tão altas em suas aeronaves. De acordo com o Departamento de Aviação Civil (DAC), em julho a taxa de ocupação nos vôos internacionais ficou em 81%. Acima de 65% é considerado saudável.

Na análise de Rossi Junior, depois das perdas provocadas pelos ataques terroristas de setembro de 2001, o setor de turismo finalmente se recupera e exibe um crescimento real. No entanto, avalia, ainda não se pode comparar ao furor dos primeiros anos do Real. "Em 1995, 96, o real chegou a valer mais do que o dólar. Teve gente que nunca tinha viajado no Brasil viajando para o exterior", diz ele. "Mas a valorização agora também é expressiva. Nos últimos dois anos, o dólar teve uma queda de 1 real praticamente."

Há outras explicações além do dólar: "A economia brasileira vai bem e as pessoas estão mais despreocupadas em relação aos gastos", diz o diretor da Abav. Além disso, ele cita o preço relativo das tarifas. "Mesmo em dólar, as tarifas estão muito baratas. Nos anos 70, uma passagem para Nova York custava, em dólar de hoje, US$ 3,5 mil. Hoje você voa por US$ 600, US$ 800."

Por essas e outras razões, a sazonalidade do setor praticamente desapareceu. "Viaja-se o ano todo. Quem não depende de férias escolares aprendeu que quando se viaja fora dessa época sai mais em conta e o atendimento é melhor."

O destino preferido continua sendo a Europa. Mas as vendas para os Estados Unidos já recuperaram os níveis pré 11 de setembro. "Hoje o brasileiro não viaja mais só para fazer compras. Desenvolveu-se um gosto pelo turismo cultural", explica Rossi Junior.

BALANÇA

O crescimento dos gastos do brasileiro no exterior fez reverter, em junho, o saldo da chamada balança cambial líquida do turismo - diferença entre os gastos do turista brasileiro no exterior e os gastos dos estrangeiros no País. Historicamente, a balança do turismo sempre foi deficitária. De 1990 a 2002, o déficit acumulado foi de US$ 22,557 bilhões. A situação começou a mudar em 2003, quando o Brasil obteve um saldo de US$ 217 milhões por causa do crescimento do fluxo de turistas estrangeiros. O saldo positivo atingiu a marca de US$ 351 milhões no ano passado - número que o governo Lula não cansava de exibir orgulhosamente. Mas ainda que o ingresso de turistas estrangeiros e seus dólares continue batendo recordes, o real valorizado fez reverter a balança. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o déficit é de US$ 408 milhões.