Título: Em Londres, já há nervosismo
Autor: Fábio Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

Envolvimento de Palocci seria muito negativo, dizem gestores

LONDRES - Um possível envolvimento do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, no escândalo de corrupção que assola o País poderá acabar com a tranqüilidade com que os investidores externos têm reagido à crise brasileira, alertam gestores de fundos de investimentos da City londrina. Na ótica dos mercados, Palocci é a peça mais importante do governo e principal avalista da política econômica ortodoxa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, um envolvimento do ministro reforçaria a impressão de que a crise inevitavelmente vai chegar ao presidente. "Por enquanto os mercados externos estão reagindo sem pânico a isso, mas, se for confirmado, o impacto certamente será muito negativo", disse a gestora do fundo de investimentos Insight, Ingrid Iversen.

Ela explicou que uma movimento mais forte de venda dos títulos brasileiros está sendo evitado, pois há muitos investidores que compram papéis com base na aposta de que essa volatilidade se dissipará como as anteriores.

"Mas a impressão que se tem é que a crise está cada vez mais próxima de Lula. E se Palocci for envolvido, os investidores poderão começar a prestar mais atenção ao restante da crise, cuja extensão até o momento foi desprezada."

IMPACTO

O economista sênior do fundo de investimentos Poalim Asset Management, Peter West, disse que se as denúncias contra Palocci forem verdadeiras, o impacto no curto prazo será muito negativo.

"Palocci é o integrante do governo mais importante para os mercados, que até agora estavam tranqüilos, entre outras coisas, por vê-lo fora dessa confusão", disse West. "No longo prazo, se Palocci for forçado a sair do governo, mas for substituído por um nome ortodoxo, como o de Murilo Portugal, os mercados poderão se acalmar diante de uma garantia de manutenção da atual política econômica." Ele frisou, no entanto, que enquanto isso não for definido, "o nervosismo deve imperar".