Título: Com Palocci na berlinda, blindagem econômica afina
Autor: SONIA RACY
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

Se nada mais acontecer, o reflexo das denúncias de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, teria recebido recursos irregulares de empreiteiros, quando prefeito de Ribeirão Preto, será o de afinar a blindagem da economia. "O espaço de atuação política de equipe de Palocci foi reduzido", analisou ontem o consultor político Murilo Aragão, da Arko Advice. Palocci agora terá uma frente de batalha que não tinha antes. "Ouvia-se falar de casos que teriam ocorrido em Ribeirão Preto, mas agora Palocci sofreu uma acusação formal", coloca Aragão, lembrando que, em crime político, a natureza do fato é mais importante que a consistência da prova. "Daqui a dois anos, Palocci poderá ser inocentado por falta de provas, mas, hoje, essa acusação significa perda de prestígio político. Tanto assim que o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, atirou." Mas a política econômica foi atingida? "Não, mas a blindagem afinou."

Lula, por sua vez, foi enfraquecido vendo seu principal assessor, com quem caminha pelas manhãs em Brasília, ser colocado na berlinda. No ver dos mercados, isso não representa necessariamente um risco terminal para os rumos da economia, mas vai afetar o consumo, os investimentos e, em algum momento, o fluxo de capitais externos. Tanto assim que, em dois dias, o dólar se valorizou mais de 4%, os juros futuros, considerando-se o vencimento janeiro de 2006, subiram de 18,97% para 19,23%, o risco País se elevou 20 pontos, para 420, e o Ibovespa caiu quase 3%.

O certo é que, se vivêssemos nos tempos de Maquiavel, ninguém duvidaria um minuto da existência de um "desestrategista" eficiente por trás da atual crise política brasileira. Como não estamos, pode-se apenas imaginar que ele exista ao se observar a clara dinâmica que o processo tem seguido. Há mais de dois meses, quando começaram as denúncias contra o PT, o País em geral e o presidente Lula em particular não têm tido um minuto de sossego. Assim que uma denúncia acaba, uma nova denúncia aparece, sempre mirando alguém próximo do presidente. Com o cuidado de garantir, até agora, sua preservação, mas deixando-o cada vez mais isolado, sozinho. Um a um seus mais antigos "companheiros" vão sendo atingidos - José Dirceu, Gushiken, José Genoino e agora Antonio Palocci. E mais. Muitos observadores têm ficado intrigados com o profundo conhecimento que esse hipotético estrategista tem do PT, sobretudo das inúmeras picuinhas pessoais internas e dos rumos que elas podem tomar quando se pisa no calo da pessoa certa.

IMPRESSÃO DIGITAL

Perplexo com a crise política, Roberto Giannetti da Fonseca, da Fiesp, sugere olhar para frente. Está trabalhando para restabelecer o fluxo comercial com a Nigéria, que em 85, por exemplo, importou US$ 1 bilhão de 400 fornecedores brasileiros. "O país já foi nosso terceiro parceiro comercial", coloca. Essa parceria foi cortada por um governo "hostil" ao Brasil e agora está sendo retomada por uma política do governo Lula.

Em recente viagem à Nigéria, acompanhando o ministro Luiz Furlan, Giannetti restabeleceu contatos e marcou um almoço, dia 8 de setembro, na Fiesp, com o presidente nigeriano.

NA FRENTE

Novos horizontes

Retornando de viagem dos EUA e Canadá, onde foram visitar as sete unidades de cimento da Saint Mary's Company, do Grupo Votorantim, José Roberto e Fabio Ermírio de Moraes mostram-se animados com a pujança da economia americana que cresce a um ritmo de 3% ao ano. "Nosso Ebitda, que era de US$ 80 milhões em 2001, vai fechar 2005 com US$ 200 milhões", comemora José Roberto, informando que o preço da tonelada de cimento está se sustentando em US$ 100.

No Brasil, mesmo com a valorização do real, o preço caiu para US$ 50, igual ao nível de 95.

Sem noção

No meio da manhã, o dólar chegou a subir 4,24%, a Bolsa chegou a cair 2,87% e os juros futuros dispararam assim que o promotor Sebastião Sérgio da Silveira saiu da sala de depoimento de Rogério Buratti só para anunciar que o ministro Palocci estava sendo acusado de ter recebido, quando prefeito de Ribeirão Preto, R$ 50 mil por mês de empreiteiras do lixo.

Se tivesse feito declarações depois das 18 horas, nada disso teria acontecido e os fatos seriam digeridos durante o fim de semana. Para o bem ou para o mal.

No ar

Enquanto a novela da Varig se arrasta, em termos de aproveitamento de aeronaves este mês, a TAM sai na frente, seguida pela Varig e depois, a Gol.

Curiosidade: a queda de ocupação de assentos da Varig na ponte aérea Rio-São Paulo ficou em torno de 30%.

Idéia

Especialistas em propriedade intelectual defendem a desoneração tributária dos artigos mais falsificados para combater o crime da pirataria. Se o imposto cai, o preço dos produtos diminui e os piratas perdem força, raciocinam.

A medida será proposta no 25º Seminário Nacional da Propriedade Intelectual, que começa dia 28, em São Paulo.

Lambança política

Notado ontem nas farmácias paulistas. Seus estoques de antidepressivos está quase no fim.