Título: Acusação a Palocci assusta mercado
Autor: Patrícia Campos Mello, Silvana Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

O dia mais temido pelo mercado financeiro nas últimas semanas chegou - ontem, a crise política contaminou o coração do poder, atingindo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Depois que Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci no tempo em que o ministro era prefeito de Ribeirão Preto, o acusou de ter recebido recursos ilegais de empreiteiras, o mercado entrou em parafuso. O dólar encerrou o dia cotado em R$ 2,45, uma alta de 2,90%, a maior desde 31 de maio de 2004. Logo após as acusações, a moeda americana chegou a subir 4,24%, atingindo a máxima de R$ 2,48. O risco país teve alta de 3,45% e atingiu 420 pontos. Só a bolsa reagiu um pouco melhor. A Bovespa fechou em queda de 0,95%, sustentada pelos estrangeiros. Até agora, esse foi o maior teste da teoria da blindagem da economia contra a crise política. Os analistas vinham adotando o discurso: "Se as denúncias não atingirem Palocci ou o presidente Lula, o mercado não estressa." As denúncias chegaram até Palocci e o dia foi ruim, mas não chegou a ser catastrófico. Segundo analistas, os investidores ainda estão esperando provas que incriminem Palocci. Eles dão o benefício da dúvida ao ministro. "A maioria dos analistas não acha que o ministro vai cair", diz Luis Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios.

Mas até mesmo uma eventual saída de Palocci, tido como o fiador da política econômica ortodoxa, não gera pânico. Segundo Lopes, os economistas Murilo Portugal, Paulo Leme ou José Alexandre Scheinkman podem ser eventuais substitutos de Palocci e, com eles, não haveria mudança na política econômica.

Para o cientista político e sócio-diretor da MCM Associados Amaury de Souza, a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil não deve ser abalada com as denúncias envolvendo Palocci. "Não há razões para fuga de capital. A economia vai bem, o problema é político ."

Diante do tamanho da crise, a reação do mercado até que não foi radical, diz Lopes do Pátria. "Acho que os investidores chegaram à conclusão que o País é maior do que o governo; eles estão olhando para a economia, com inflação em queda e contas externas muito favoráveis", diz Lopes. "O mercado só vai desabar se o governo adotar medidas extremas, como anunciar um calote na dívida ou controle de capitais."

Um dos motivos para a relativa calma é o ambiente externo, que continua favorável. Um bom exemplo são as Filipinas. O país asiático está mergulhado em um escândalo de corrupção que levou o marido da presidente Glória Arroyo a fugir para o exterior. Mesmo assim, o risco país das Filipinas continua baixo, em 421 pontos. "O investidor está mais leniente - não tendo insurreição popular ou decisão de calote, ele assume o risco."

As denúncias provocaram fortes vendas no mercado da dívida externa. Para Luiz Forbes, diretor da corretora López León, os brasileiros venderam muito. "Mas os estrangeiros estão esperando provas, não saíram vendendo", diz Forbes.