Título: "Esse dinheiro foi pago mensalmente durante toda a gestão do prefeito Palocci, ou seja, durante dois anos"
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A4

MINISTRO ANTONIO PALOCCI : Em Ribeirão Preto, durante o tempo em que eu trabalhava na Leão & Leão, no período de 1999 a março de 2004, foram prefeitos Luiz Roberto Jábali, Antonio Palocci Filho e Gilberto Maggioni. A licitação ocorreu na época do Jábali e não houve acordo porque o mercado era muito competitivo e os preços baixos. A licitação foi muito disputada e a Leão ganhou no preço. Na execução do serviço sempre havia uma contribuição financeira mensal em que a empresa dava ao prefeito, girando em torno de R$ 50 mil mensais que eram dados ao prefeito. Na época do prefeito Palocci esse dinheiro era entregue ao secretário da Fazenda, Ralf Barquete. Pela amizade que eu tinha com o Ralf sei que ele repassava o dinheiro ao diretório nacional do PT. O tesoureiro do PT era o Delúbio.

ESQUEMA DA PROPINA : Esse dinheiro foi pago mensalmente durante toda a gestão do prefeito Palocci, ou seja, durante dois anos. Quem indicou Ralf para receber esse dinheiro foi o próprio Palocci à empresa Leão. Como eu integrava a diretoria tinha conhecimento. Ralf apanhava o dinheiro na tesouraria da empresa. Quem entregava era o gerente financeiro da época. Oficialmente, a empresa apoiou financeiramente a campanha de Palocci à prefeitura. Esse apoio ocorreu oito meses antes do início da campanha eleitoral. O valor oficial era de R$ 150 mil. Os sistema dos R$ 50 mil continuou com o outro prefeito, Maggioni.

LIXO : No tocante a licitações de concessão de lixo havia um acordo no mercado entre as grandes empresas que participariam. As menores não tinham condições de participar por conta do capital inicial e como eram muitas empresas haveria uma disputa muito grande. A notícia que tenho é que as empresas sempre colaboravam nas eleições. Nessa época, a prefeita da cidade de São Paulo era Marta Suplicy. Em algumas cidades onde a Leão & Leão tinha contratos de coleta de lixo havia um apoio da administração pública municipal na licitação. Onde havia esse apoio ocorria uma colaboração na elaboração dos editais e nas informações gerais, privilegiadas da licitação. Outro benefício era com relação à fixação do cronograma, fixando-se datas de abertura, divulgação de acordo com os interesses comuns, ou seja, da prefeitura e da empresa. Quando a empresa sagrava-se vencedora, combinava-se com o prefeito uma forma de contribuição financeira. A contribuição ocorria dentro de um porcentual de 5% a 15%, a depender do contrato, em relação ao faturamento. O dinheiro era levado diretamente ao prefeito.

BINGOS : Em relação à exploração de bingos no País tenho conhecimento de que houve duas contribuições em 2002 para a campanha do presidente Lula, efetivadas por dois grupos, um do Rio, cujo nome desconheço, outro de São Paulo. O grupo de São Paulo ofereceu R$ 1 milhão. Não sei o montante oferecido pelo grupo do Rio, acredito que seja em torno de R$ 1 milhão ou mais. A contribuição foi encaminhada diretamente ao comitê financeiro da campanha, na sede nacional do PT. O comitê era coordenado por Delúbio Soares, ele tinha conhecimento. O interesse dessas contribuições era a regulamentação do jogo de bingo no Brasil, o que não aconteceu.

CAIXA/GTECH : A indicação das pessoas que iriam coordenar a área de loterias na Caixa Econômica Federal aconteceu somente pelo grupo do Rio. a renovação do contrato com a Gtech também estava sendo tratada por esse grupo. Houve uma intervenção do governo já eleito e empossado para que não fosse feito dessa forma. Em seguida, a Gtech, representada por Marcelo Rovai, procurou na Caixa saber como chegaria ao ministro Palocci. O Ralf Barquete (ex-secretário de Fazenda na prefeitura de Ribeirão) me pediu para conversar com a Gtech. Numa reunião em Brasília, a Gtech ofereceu para que eu levasse ao meu interlocutor (na Caixa) a oferta de pagamento de honorários de R$ 500 mil a R$ 16 milhões ao longo do contrato, previsto inicialmente para 25 meses. Esse grupo foi orientado pela Caixa Econômica Federal a procurar o ministro Palocci para melhorar as condições de renovação do contrato. O Palocci respondeu, por meio do Ralf, que não iria interferir nesse assunto, pois era um assunto técnico vinculado à Caixa.

PREFEITURAS/CONTRATOS : Em Matão ocorreram todas as tratativas para que a Leão fosse a vencedora. Os contratos, normalmente, são de cinco anos. A Leão já trabalhava na cidade, ela já tinha uma contribuição mensal dada ao prefeito. O valor da contribuição era de 15% do valor do faturamento. Existem documentos que podem comprovar e demonstrar esse valor. O pagamento ocorria com a simulação de compras, utilizando-se notas fiscais. O pagamento da mensalidade era condicionado ao pagamento que a prefeitura fazia. Antes e depois das licitações havia reuniões com as empresas, tendo em vista um acordo para a disputa em um determinado local. É um procedimento natural. Tive contatos nas prefeituras de Araraquara, Bebedouro, Sertãozinho, Monte Alto, Franca e Ribeirão Preto.

DELÚBIO : O tesoureiro do PT era o Delúbio. Pelo que sei o dinheiro era entregue ao Delúbio. O Ralf me confidenciava esses fatos. Pela amizade que eu tinha com o Ralf sei que ele repassava o dinheiro ao diretório nacional do PT, com autorização do prefeito Palocci.