Título: Política econômica não muda se ministro sair
Autor: João Domingos e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - O principal recado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos seus ministros, na reunião da sexta-feira da semana passada, foi que a política econômica não vai mudar com a crise do governo. "Nós estamos sob pressão e apanhando há dois meses e, mesmo assim, a credibilidade do governo na área econômica se mantém", disse Lula. "Ela se mantém porque estamos fazendo as coisas certas", acrescentou o presidente, segundo relato de um dos presentes. Assim, uma eventual saída do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, não deve representar o fortalecimento da ala do governo e do PT que propõe uma mudança de rumos na economia. O mais provável é que o novo ocupante do cargo, na hipótese de saída de Palocci, seja alguém afinado com a política em curso.

Lula está entusiasmado - e demonstrou isso durante a reunião ministerial - com os resultados obtidos pela economia brasileira nos últimos meses, principalmente com relação ao número de empregos formais criados. O entusiasmo de Lula aumentou esta semana quando, durante uma reunião da Junta de Execução Orçamentária, os ministros Palocci e do Planejamento, Paulo Bernardo, informaram o presidente sobre a possibilidade de que o crescimento econômico deste ano supere a previsão de 3,4%. Essa perspectiva foi reforçada pelos bons números que o IBGE deve anunciar nos próximos dias referentes ao comportamento da economia no segundo trimestre deste ano.

Um crescimento maior em 2005 e uma redução progressiva da taxa de juros a partir de setembro, como a maioria dos especialistas do mercado acredita, reforçam a perspectiva de que o presidente Lula poderá terminar o seu mandato com a economia em ritmo muito acelerado, possivelmente próximo a 5%. A proposta orçamentária para 2006, que deverá ser encaminhada ao Congresso Nacional até o fim do mês, projeta um crescimento de 4,5%.

INVESTIMENTOS

O otimismo em relação ao próximo ano está condicionado, no entanto, segundo todos os analistas, à continuidade do cenário extremamente favorável da economia mundial. A aposta em um crescimento acelerado no próximo ano é feita também por aqueles que acreditam numa recuperação da popularidade de Lula. A esperança desses integrantes do governo é que os bons ventos da economia ajudem Lula a contornar a crise política e sedimentar a candidatura à reeleição.

Mesmo com o apoio declarado à política econômica executada por Palocci, o presidente Lula impôs uma derrota ao seu ministro da Fazenda na semana passada.

Palocci queria elevar o superávit primário do setor público de 4,25% para 5% do Produto Interno Bruto (PIB) ainda este ano e em 2006.

Houve uma forte reação contrária de vários ministros, inclusive da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do presidente do BNDES, Guido Mantega. Ao final de intensa disputa dentro do governo, Lula terminou apoiando o grupo que defende a manutenção da meta de 4,25% do PIB. Esse grupo defende maiores investimentos, pois avalia que nada será pior para o governo do que uma crise política com paralisia do governo.