Título: Empresário teme contaminação da economi
Autor: João Domingos e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A10

O presidente do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Sindipeças), Paulo Butori, disse ontem que começa a temer os reflexos no desempenho do setor, que vinha apresentando aumento de vendas e de contrações de pessoal. Esse temor de contaminação da economia pela crise política foi uma reação às novas denúncias, desta vez envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Eleitor declarado do presidente Lula, Butori passou a ver a possibilidade de alguma turbulência afetar o desempenho da indústria de autopeças, principalmente no nível a que chegaram ontem as investigações relacionadas à crise no governo.

Até o início desta semana, Butori e o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, vinham afirmando que a crise política não estava interferindo nos negócios do setor automobilístico. "O Brasil está triste e apreensivo com relação ao futuro e espero que o resultado de toda essa embrulhada não venha a atrapalhar mais ainda a vida do cidadão", disse Butori.

CACIFE

Menos apreensivo, o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, acredita que a economia brasileira tem condições de enfrentar qualquer crise, porque acumulou reservas. "O governo tem de agir rápido e com competência", observou, quando questionado sobre os impactos na economia das denúncias do ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti, de que o ministro, quando prefeito de Ribeirão Preto, recebia R$ 50 mil por mês de empreiteira.

"Seja quais forem os condutores da política econômica, há condições para controlar qualquer crise", disse Gomes de Almeida. Ele argumenta que as reservas líquidas do Brasil somam hoje US$ 40 bilhões, suficientes para suportar um ataque especulativo e a fuga de capitais que são características de crises financeiras. "O cacife do governo é grande", afirmou o diretor do Iedi, uma entidade que reúne 44 das maiores indústrias do País.

O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, disse que há "uma quadrilha no poder", em referência às acusações feitas por Buratti contra Palocci. "Todos eles têm que dar satisfação e não só negar", disse Afif, que, quando assumiu a ACSP, em março de 2003, reuniu 2 mil empresários no clube Monte Líbano, em São Paulo, em cerimônia que teve como atração o então recém-empossado presidente Lula.

Segundo Afif, só a verdade sobre essas denúncias vai dar um alívio para a economia. "Se tem que mudar, que mude." Na sua opinião, o atual governo não trouxe estabilidade para o País. "Este governo não fez a lição de casa, reduzindo os gastos públicos. O Estado pesa nas costas de quem gera emprego", criticou Afif, que, em 1989, foi candidato à Presidência pelo PFL.