Título: Lula se compara a Juscelino, 'injustiçado e perseguido'
Autor: Ana Paula Scinocca e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A12

CAMPINAS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comparou a Juscelino Kubitschek. Disse que se sente "injustiçado e perseguido", assim como o ex-presidente, mas demonstrou confiança na superação da crise, agravada ontem com as declarações do advogado Rogério Buratti sobre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Em reunião com prefeitos da região de Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo, Lula reconheceu a existência de "uma nova crise", que atinge o homem forte de seu governo. Mas fez questão de mencionar que Palocci havia dado uma resposta "imediata" e "dura" ao negar, com veemência, em nota, denúncia de seu ex-secretário de Governo na prefeitura de Ribeirão Preto de que teria recebido propina de empresários ligados à coleta de lixo. Lula lembrou que Juscelino chegou até a ser chamado "de ladrão", mas depois teve seu trabalho reconhecido. Há dias, havia se comparado a Gétúlio Vargas. "Não quero ser Juscelino. Mas quero ser reconhecido em vida", afirmou, de acordo com relato de prefeitos e deputados que participaram do encontro.

Foi o próprio presidente quem cuidou de avisar os 13 prefeitos que almoçaram com ele em um hotel de Campinas sobre a inclusão de Palocci no epicentro da crise, deflagrada no dia 6 de junho com a denúncia do presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ), sobre a existência do mensalão.

SURPRESA

Segundo relato do ex-ministro da Secretaria de Segurança Alimentar e Combate à Fome José Graziano, hoje assessor especial de Lula, o presidente "fala várias vezes por dia com Palocci" e foi informado pelo próprio titular da Fazenda que uma nota estava sendo expedida para negar as acusações de Buratti. "O presidente deixou claro que tudo vai se acertar e os culpados serão punidos. Mas reconheceu sim uma nova crise", afirmou Graziano.

Deputado federal pelo PT, Luciano Zica (SP), candidato derrotado à prefeitura de Campinas, disse que Lula reagiu com surpresa e tristeza ao tomar conhecimento da denúncia envolvendo Palocci. "O presidente se sentiu surpreso e entristecido, porque não esperava uma denúncia desse tipo. Mas mostrou também tranqüilidade e uma segurança muito grande, porque não é intenção dele criar obstáculos para as investigações." Apesar disso, testemunhas da reunião destacaram que Lula demonstrou confiança e otimismo na superação da crise. O deputado João Hermann (PDT-SP) garantiu: "Foi tanto entusiasmo que me senti em outro mundo."