Título: Cresce o telemarketing do crime
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Economia & Negócios, p. C1,3

Epidemia do trote chega a cem telefonemas diários: bandidos ligam, mentem que seqüestraram um parente e pedem até R$ 20 mil

- Alô, quem tá falando? - É o Heitor.

- Você é casado com a Amália e tem duas filhas, que tão na escola agora?

- É. Mas por quê? Quem está falando?

- Aqui é o seqüestrador da sua mulher! Eu estou com ela no cativeiro e ela me falô que você é uma pessoa boa e vai conseguir o que a gente quer. Aí ó, é o seguinte: é R$ 10 mil pra soltar ela. Se alguma coisa der errado, vamo picar sua mulher e você vai receber os pedaço!

Heitor telefonou para a mulher, mas o celular estava na caixa postal. Ele não sabia que outro bandido estava conversando com Amália, dizendo que o marido estava seqüestrado e exigindo o mesmo resgate.

Manter os telefones ocupados para que um não localize o outro é fundamental para o golpe do seqüestro, que já ganha ares de epidemia. Esse é o mais recente produto do telemarketing do crime: bandidos telefonam para qualquer pessoa - pegam o número na lista telefônica - e tentam aplicar o golpe da ameaça do PCC ou do seqüestro. O telemarketing do crime faz quase cem vítimas por dia em São Paulo, nas estimativas da polícia. Isso sem contar com outra praga: os e-mails cada vez mais freqüentes que tentam induzir usuários da internet a baixar vírus em seus computadores ou a revelar dados cadastrais a quadrilhas.

O telemarketing é mais um subproduto do uso de celulares pelos detentos de todo o País. Com tempo disponível nas cadeias, eles resolveram montar verdadeiras centrais de telemarketing, usando os aparelhos para espalhar pânico e conseguir assim algum dinheiro.

Os bandidos, a maioria presos, aproveitam a sensação de insegurança das vítimas para deixá-las desesperadas e levá-las a pagar de R$ 500,00 a R$ 20 mil. Tudo começa com um telefonema para um parente, empregada ou vizinho, induzido a dar informações sobre a pessoa. Dizem que precisam falar com a vítima e pedem dados sobre a família, como nomes dos filhos, antes de entrar em contato com o alvo da extorsão.

"Alô, você é mãe da Maria? Sua filha tá com um poblema. Ela vai morrer..." A mãe da menina, de 10 anos, não esperou o bandido concluir a frase e, sem saber, fez o que a polícia aconselha para esses casos: desligar o telefone. O criminoso havia ligado para a casa e pedido o número do celular da mãe para a menina. Em seguida, ordenou a Maria que não desligasse. Por sorte, ela desobedeceu e a mãe pôde telefonar para casa e se tranqüilizar.