Título: CPI tenta identificar a origem de R$ 190 milhões em contas de Valério
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A19

BRASÍLIA - A CPI dos Correios não conseguiu identificar a origem de cerca de R$ 190 milhões movimentados nos últimos cinco anos nas contas mantidas no Banco do Brasil pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Para tentar esclarecer a questão, o sub-relator para a área financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), pediu ao BB que informe os lançamentos de créditos superiores a R$ 10 mil (pessoa jurídica) e R$ 2 mil (pessoa física). Até agora, o banco tinha informado os lançamentos superiores a R$ 30 mil (pessoa jurídica) e R$ 10 mil (pessoa física). "Não identificamos de onde vieram R$ 190 milhões, mas isso não significa que tenha irregularidade. Pode ser que exista um volume expressivo de operações feitas abaixo de R$ 30 mil que explique a origem desses recursos", disse Fruet. Ele observou que a chegada dos novos dados requisitados pela CPI ao BB deverá demorar porque terão de ser tabuladas mais de 130 mil operações financeiras. A CPI já recebeu informações da quebra do sigilo bancário de 74 contas, das quais 51 são de Marcos Valério ou de suas empresas.

No primeiro levantamento feito nas contas, a comissão também detectou que, entre 2003 e 2005, houve um crescimento de créditos depositados em favor de duas empresas de Marcos Valério. A empresa Multi Action Entretenimentos somou depósitos de R$ 3,1 milhões entre 2000 e 2002. Os créditos aumentaram quase seis vezes, indo para R$ 17,6 milhões no período de 2003 até este ano. Na Tolentino e Melo Assessoria Empresarial, da qual ele também é sócio, a entrada de dinheiro saltou de R$ 137 mil para R$ 6,7 milhões. Além disso, a 2S Participações, criada depois das outras duas, recebeu R$ 20,4 milhões entre 2003 e 2005.

Fruet incluiu no levantamento apresentado ontem as explicações dadas por Marcos Valério para a origem dos recursos que foram distribuídos para o PT e partidos aliados. O empresário disse que o dinheiro veio de empréstimos que fez no Banco Rural e no BMG. Em uma primeira versão, Marcos Valério declarou que fez cinco empréstimos no BMG e no Rural, totalizando R$ 50,2 milhões. Mais tarde, em depoimento à Polícia Federal, informou que foram seis empréstimos, no total de R$ 55,2 milhões.

Já em depoimento ao procurador-geral da União, Antonio Fernando Souza, o empresário afirmou que fez 11 empréstimos (7 no Banco Rural e 4 no BMG), totalizando R$ 151,1 milhões. "Identificamos essas três possibilidades de financiamento através desses empréstimos. Mas a cada hora o Marcos Valério fala uma coisa. Ainda não sabemos qual das três possibilidades é a verdadeira", argumentou Fruet.

Os levantamentos feitos pela CPI também deixam claro que grande parte da fonte de recursos das empresas de Marcos Valério vinha de contratos com empresas estatais e governos. Nos últimos cinco anos, mais de R$ 300 milhões vieram do contrato fechado pela DNA com o Banco do Brasil. Já de contratos com o Ministério dos Esportes e do Trabalho foram depositados R$ 40,74 milhões na conta de Valério no Banco do Brasil, desde 2000 até meados deste ano. Na conta do Banco de Brasília, o empresário recebeu R$ 64,11 milhões da Secretaria de Fazenda do Distrito Federal.

A CPI dos Correios pretende concentrar suas investigações nas movimentações financeiras de Marcos Valério e nos contratos feitos pelos Correios. "Vamos priorizar a investigação sobre a origem dos recursos que movimentaram o esquema do Marcos Valério", resumiu o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS).