Título: Um poderoso setor, com R$ 287 bilhões para investir
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Nacional, p. A4

RIO - Investidores poderosos, os 256 fundos de pensão regularizados no País movimentam recursos que correspondem a 16% do PIB, de R$ 1,766 trilhão. O poder financeiro das maiores entidades neste setor supera o dos maiores grupos empresariais nacionais. O patrimônio de R$ 72,7 bilhões da Previ, o fundo dos funcionários do Banco do Brasil, que aparece em primeiro lugar no ranking e cujo sigilo bancário pode ser quebrado hoje, é maior que o da Petrobrás, empresa líder brasileira, com R$ 70,1 bilhões. Tanto poder econômico atraiu o interesse político. Petros e Funcef, que terão sigilos quebrados pela CPI dos Correios para análise de aplicações no BMG e Banco Rural, são patrocinados respectivamente pela Petrobrás e pela Caixa Econômica Federal e ocupam o segundo e o terceiro lugar do ranking. A terceira entidade com sigilo quebrado é a Geap, 34ª colocada, que reúne funcionários de ministérios e órgãos federais. Juntos, Petros, Funcef e Geap giram R$ 44,6 bilhões.

O patrimônio total dos fundos, de mais de R$ 287 bilhões, corresponde a uma vez e meia toda a riqueza gerada pela agricultura. São recursos aplicados em investimentos financeiros, acionários e imobiliários que, teoricamente, têm uma única finalidade: complementar rendimentos das aposentadorias das pessoas que contribuem.

O crescimento da previdência privada disparou nos últimos anos, enquanto o sistema oficial da previdência regrediu. Mesmo mantidos por estatais e órgãos públicos - que contribuem para as reservas - os fundos de pensão são considerados instituições privadas sem fins lucrativos. Nessa condição, questionam a ingerência do Tribunal de Contas da União (TCU) em suas atividades.

Na prática, porém, a teoria da empresa privada funciona de outra forma. Muitas vezes, os investimentos atendem a interesses do governo. Essa pressão não começou agora, mas vem se acentuando. O que se questiona é o volume de aplicações de risco feitas por alguns fundos em bancos da chamada segunda linha. A alta exposição da Fundação Real Grandeza, de Furnas, no Banco Santos causou um prejuízo de R$ 150 milhões à instituição quando o banco quebrou.

A compra de títulos nos bancos Rural e BMG, investigados por envolvimento com o esquema do publicitário Marcos Valério, levanta a suspeita de participação dos fundos. São basicamente investimentos em CBDs e RDBs, títulos que têm como garantia as ações do próprio banco. A grosso modo, seria como se os investidores virassem acionistas do banco, expondo-se a grandes perdas em caso de prejuízo.