Título: CPI dos Correios quebra sigilo de três fundos de pensão
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - A CPI dos Correios aprovou ontem a quebra do sigilo bancário de movimentações financeiras e aplicações feitas nos Bancos Rural e BMG pelos fundos de pensão Petros (dos servidores da Petrobrás), Funcef (da Caixa Econômica Federal) e Geap (dos servidores federais). Hoje a CPI deve aprovar a quebra de sigilo de mais oito fundos nas transações com os dois bancos. "Vamos fazer uma quebra de sigilo qualificada para viabilizar rapidamente informações de que precisamos", explicou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Em 4 de agosto, a comissão aprovou requerimento de informações ao Ministério da Fazenda, à Secretaria de Previdência Complementar e aos presidentes de 11 fundos sobre a compra de títulos pós-fixados. Até agora, segundo Delcídio, não foi enviada nenhuma informação.

Os integrantes da CPI investigam se os fundos foram usados no esquema de caixa 2 montado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Querem saber se os empréstimos feitos por Valério para o PT, somando R$ 55 milhões, foram a retribuição do Rural e do BMG pelos altos investimentos que receberam dos fundos. Por essa suspeita, os dois bancos sabiam que os empréstimos não seriam pagos, mas estavam sendo compensados com os investimentos. Como os fundos não podiam repassar dinheiro direto ao PT, teriam usado os bancos como intermediários.

"A CPI desconfia cada vez mais que os fundos foram usados para esquentar recursos. Os fundos podem ter tido prejuízo nas operações para compensar os empréstimos ao PT", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que o ex-ministro Luiz Gushiken, chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos do Governo, será ouvido para esclarecer a influência que tinha. "Parece que havia certa hegemonia sobre os fundos, mas não quer dizer que ele tinha influência nas aplicações financeiras feitas."

Delcídio afirmou que a data do depoimento de Gushiken só será marcada depois que chegarem dados da devassa nos fundos. Os que devem ter o sigilo quebrado hoje são: Centrus, dos funcionários do Banco Central, Real Grandeza, dos empregados de Furnas Centrais Elétricas, Eletros, do Grupo Eletrobrás, Postalis, dos Correios, Previ, do Banco do Brasil, Sistel, dos funcionários do sistema Telebrás, Serpros, do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), e Portus, dos funcionários da Portobrás.

TONINHO DA BARCELONA

Na sessão administrativa de ontem, a tropa de choque do governo conseguiu derrubar a proposta de convocar o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Foram 15 votos contra, 11 a favor e 1 abstenção, de Serraglio. "Não querer ouvir o Toninho da Barcelona é querer o abafa", reclamou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). Um dos requerimentos era de autoria da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que retirou sua proposta sob a alegação de que o doleiro já foi ouvido na semana passada, em São Paulo, por parte da CPI. "Ele vai repetir o que já disse", argumentou.

Por acordo, a CPI aprovou a convocação de três doleiros. Um é Dario Messer que Toninho da Barcelona acusa de trocava dólares para o PT. Segundo Toninho da Barcelona, o PT tinha conta clandestina no exterior, operada pelo Trade Link Bank, offshore vinculada ao Banco Rural com sede nas Ilhas Cayman. Quando o PT queria sacar recursos do Trade Link para usá-los no Brasil acionaria Messer, que receberia os dólares em sua offshore no Panamá e entregaria aos petistas o valor correspondente em reais no Rural, em Belo Horizonte.

Outro que será convocado é Marcelo Viana, funcionário de Toninho da Barcelona que fazia entregas de dinheiro do PT na Câmara de São Paulo, segundo o doleiro. A última é a doleira Nelma Cunha, da Havaí Câmbio e Turismo, de Santo André.

Os integrantes da CPI decidiram ainda convocar os donos da corretora Bônus-Banval - Enivaldo Quadrado, Luiz Carlos Mazano e Breno Fischberg -, que seria usada por Marcos Valério para enviar recursos a petistas, e de Ricardo Annes Guimarães, presidente do BMG. Foi aprovada também quebra do sigilo bancário e fiscal, nos últimos cinco anos, da Esfort Trading S.A, com sede no Uruguai e detentora de 99% das ações da Guaranhuns Empreendimentos Ltda. A Guaranhuns, segundo Marcos Valério, foi usada para repassar recursos para o PL.