Título: Ex-assessor foi à Fazenda 9 vezes
Autor: Adriana Fernandes e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - O chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Juscelino Dourado, informou ontem, em nota à imprensa, que manteve nove encontros com o advogado Rogério Buratti na sede do Ministério da Fazenda, mas afirma que foram de caráter pessoal. Dourado confirma ser amigo de Buratti que, sob delação premiada, na última sexta-feira, acusou o ministro Antonio Palocci de receber R$ 50 mil por mês de esquema de propinas na prefeitura de Ribeirão Preto. Dourado afirma conhecer Buratti, seu padrinho de casamento, há mais de 15 anos. Segundo a nota, os dois foram colegas de trabalho e sócios de uma franquia há oito anos. "Nossas famílias se conhecem e compartilham atividades sociais e comemorativas", explica, afirmando que continua amigo de Buratti.

"Considero que esses encontros (no Ministério da Fazenda) estão dentro do contexto do relacionamento acima descrito e não significam acesso por parte do senhor Buratti a nenhum tipo de benefício quanto a serviços ou contratos junto ao governo federal", continua a nota. Dourado é citado na CPI dos Bingos como um dos envolvidos no esquema de fraudes e licitações do lixo e lavagem de dinheiro na gestão de Palocci na prefeitura de Ribeirão. Ele informa na nota que está à disposição para prestar esclarecimento sobre seu relacionamento com Buratti na CPI dos Bingos, assim que a data de seu depoimento for marcada.

O autor de sua convocação na CPI dos Bingos, senador Romeu Tuma (PFL-SP), lembrou que Dourado presidiu a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto na gestão Palocci.

Nas gravações feitas pelo Ministério Público Estadual, Buratti cita Juscelino Dourado, chamando-o de "J", como um dos envolvidos nos acordos para fraudar licitações da prefeitura. No depoimento que prestou aos promotores, Buratti negou que tivesse encontrado Dourado no ministério.

A explicação de Dourado não convenceu a oposição. Os parlamentares esperam que o depoimento de Buratti na CPI dos Bingos, hoje, esclareça a natureza dos encontros com Buratti.

"O ministério mais importante da Esplanada não é lugar para encontros pessoais", criticou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Mas, com certeza, os assuntos eram personalíssimos. Afinal, Buratti não foi ao gabinete do ministro defender o interesse público." O senador afirma que a CPI dos Bingos deve concentrar esforços nas possíveis contradições sobre os encontros.

O deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) também estranhou a versão de Dourado. "A princípio não há problema em receber um amigo no gabinete. O problema é quando se mente sobre isso", acredita. "Aí, é inevitável que as pessoas criem dúvidas sobre os motivos dos encontros." Colaborou: Diego Escosteguy