Título: Buratti diz que vai confirmar na CPI denúncias contra Palocci
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Nacional, p. A8

RIBEIRÃO PRETO - Rogério Tadeu Buratti, o ex-assessor que acusou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de receber propina de R$ 50 mil por mês de empreiteira na prefeitura de Ribeirão Preto, vai manter em seu depoimento na CPI dos Bingos hoje todas as acusações que fez na Polícia Civil, sexta-feira. Em entrevista ao Estado, ontem, Buratti revelou que acrescentará novos nomes e fatos, começará afirmando não ter provas sobre o que fala e pretende fazer um alerta. "Quero deixar claro, desde o início, que o que eu sei é por conversas que tive e coisas que me contaram", explicou Buratti, em relação as acusações contra Palocci de recebimento de propina em Ribeirão e a negociação de renovação do contrato de loterias da Caixa Econômica Federal com a multinacional Gtech. "O que não quero é ser apontado como único homem mau da história", reclama.

Segundo Buratti, ele vai refazer as acusações contra a gestão de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002) e confirmar que viabilizou o agendamento de audiência entre executivos do grupo português Somague e o ministro. A assessoria do ministério nega esse encontro. O grupo Somague tem sociedade com a empreiteira Leão Leão na concessionária de rodovia Triângulo do Sol.

Quanto à renovação do contrato da Gtech com a CEF - estopim do escândalo do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz -, Buratti é acusado pelo diretor de marketing da multinacional, Marcelo Rovai, de tentar achacar a empresa em troca da viabilização da renovação do contrato com a CEF, em 2003.

O novo homem-bomba da crise do mensalão conta outra história. Afirma que foi Rovai que o procurou para atuar como lobista no Ministério da Fazenda e possibilitar a renovação do contrato nas melhores condições (maior tempo de vigência e menor desconto nos preços).

Buratti revelou ontem que dirá na CPI que Rovai o teria procurado "duas ou três vezes", mesmo após a assinatura da renovação do contrato - em 8 de abril de 2003, pelo valor total de R$ 650 milhões. "Ele voltou a me procurar, pois sentiu que eu tinha conseguido dar o recado (dentro do ministério). Eles imaginaram que poderia ajudá-los mais", diz Buratti.

Ele afirma que negou a proposta de atuar como lobista, pois considerava o serviço difícil, já que teria perdido os contatos dentro do PT desde 1995.

Buratti diz ainda que os pedidos da Gtech foram barrados no Ministério da Fazenda. O contrato de renovação, no entanto, acabou sendo assinado pelo prazo máximo: 25 meses.

A versão de Buratti é a de que ele foi procurado pela Gtech por intermédio do advogado da empresa Enrico Gianeli, após investida sem sucesso com o assessor especial da presidência da CEF Ralf Barquete (que morreu no ano passado). Barquete foi secretário de Fazenda da prefeitura de Ribeirão na segunda gestão de Palocci (2001-2002) e era amigo de Buratti. A oferta inicial foi de R$ 6 milhões, segundo ele, mas chegou a R$ 16 milhões.

Outra informação que será confirmada, mas sem provas, será a acusação de que grupos de empresários de bingo do Rio de Janeiro e de São Paulo contribuíram com dinheiro para a campanha de Lula em 2002. Ele afirmou à polícia que sabia que em São Paulo foram doados R$ 1 milhão, dinheiro esse que teria sido repassado para o ex-tesoureiro Delúbio Soares, no Diretório Nacional do PT.