Título: Lula pede a Tarso que não desista de comandar o PT
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou contrariado com as críticas do presidente do PT, Tarso Genro, à política econômica e ao governo, mas, mesmo assim, pediu a ele ontem, em conversa reservada, que não desista de sua candidatura ao comando do partido. Nos últimos dias, Tarso vem travando uma queda-de-braço com o ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), e colecionado contenciosos que desagradam ao Planalto. Lula não gostou de ouvir Tarso afirmar que sua reeleição, hoje, seria impossível, que o aumento do superávit primário seria "um rematado absurdo" e que não há argumentos para votar no partido do governo. Disse que o embate no PT prejudica não só o partido como o governo. Mais: teme que, se o Campo Majoritário não se recompuser, a esquerda petista vença a eleição para renovação da cúpula do PT, em setembro.

A preocupação de Lula é que, com o racha na ala moderada, a direção do partido caia novamente nas mãos dos chamados radicais, como já ocorreu em 1993. Se isso ocorrer, diz ele, o PT vai atazanar o governo do PT.

Tarso disse a Lula que, se Dirceu continuar na chapa apresentada pelo Campo Majoritário, não terá condições de presidir o partido.

Repetiu, ainda, que continua refletindo sobre a conveniência de permanecer candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, na eleição marcada para setembro, se não houver uma ruptura com o antigo núcleo dirigente, comandado por Dirceu.

COM DIRCEU

Na tarde de ontem, emissários de Lula tentaram convencer Dirceu a retirar seu nome da chapa do Campo Majoritário. Ele repetiu que não aceitará ser rifado. "Não sou empecilho nem quero criar problemas, mas também não posso ser posto nessa situação constrangedora e aceitar ultimato do Tarso", disse ele, que presidiu o PT de 1995 a 2002. "Não mereço isso."

A conversa com Dirceu ocorreu no gabinete do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) e dela também participaram o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, e o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. "A situação do PT é muito difícil e não podemos pôr projetos pessoais acima do partido e do governo", afirmou Mercadante, que hoje também vai conversar com Tarso. "Declarações políticas sobre a reeleição e críticas à política econômica não ajudam." Se Tarso renunciar à candidatura, o nome mais cotado para substituí-lo na chapa é o do deputado Ricardo Berzoini (SP), atual secretário-geral do PT.