Título: Após retirada, palestinos enfrentam teste de confiança
Autor: James Bennet
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Internacional, p. A14

GAZA - A retirada de Israel da Faixa de Gaza tem provocado profundas questões sobre o rumo do sionismo. Mas enquanto a questão fundamental para Israel é até onde, para os palestinos é se. Se adquirirem controle sobre mais território do que eles jamais tiveram, terminarão com um Estado independente ou num beco sem saída. "Este é um teste", disse Basil Eleiwa, um empresário da Faixa de Gaza que vê este momento do conflito entre árabes e israelenses como um paraíso turístico em potencial. "Ou provamos ao mundo que merecemos ter um Estado independente em Gaza, na Cisjordânia e parte de Jerusalém ou, então, provamos exatamente o contrário."

O presidente palestino, Mahmud Abbas, enfrenta um conjunto assustador de desafios: impedir o terrorismo, acabar com o caos nas cidades palestinas, reavivar a economia e convencer Israel a voltar à mesa de negociações e analisar a medida muito mais penosa da remoção dezenas de milhares de colonos da Cisjordânia.

Como base para conseguir isso, Abbas precisa usar a sofrida Faixa de Gaza, que é mais pobre e mais radical, política e religiosamente, do que a Cisjordânia. Muitos palestinos suspeitam de uma armadilha israelense, destinada a separar os palestinos da Faixa de Gaza dos palestinos da Cisjordânia, deixar os moradores de Gaza isolados e decretar o fim do movimento nacional.

Mas segundo seus assessores, Abbas enxerga grande potencial. Embora assegurando a seu povo que pretende pressionar por mais território, incluindo a capital palestina em Jerusalém Oriental, Abbas começou a insistir para que se tire vantagem imediata da retirada dos israelenses.

"Hoje, devemos começar a trabalhar arduamente para reconstruirmos nosso país, nossas instituições, nossa economia, de forma que possamos construir uma nobre vida em paz, em segurança", disse ele na sexta-feira.

Os consultores de Abbas dizem que vêem possibilidades de um progresso rápido. Por exemplo, a maioria dos analistas prevê eleições em Israel em menos de um ano, e a visão convencional é que haverá um movimento na direção de conversações pela paz durante a campanha. A idéia é que o primeiro-ministro Ariel Sharon terá de tender para a direita para manter à distância o desafio representado pelo ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

Os assessores de Abbas acham que eles poderão aproveitar as eleições israelenses para mudar a visão de Israel de que não há um parceiro de negociação palestino. E dizem que podem fazer isso tratando a retirada de forma tranqüila e, possivelmente, propondo uma nova iniciativa de paz no final do ano.

As autoridades palestinas insistem, porém, que suas opções dependem parcialmente das atitudes de Israel. Do ponto de vista prático, nada mudou ainda para os palestinos de Gaza, pois forças israelenses manterão o controle dos pontos de travessia de Gaza, seu litoral e espaço aéreo. Israel justifica a medida pelo temor de contrabando de armas e ataques.

Com o argumento de que não havia um parceiro palestino, Israel resolveu agir unilateralmente. Estejam ou não os israelenses certos, a retirada, ocorrida após anos de ataques sangrentos aos assentamentos, convenceu a maioria dos palestinos de que Israel só agirá pressionado pela violência.