Título: Bioquímico da USP prevê surto entre 2 e 5 anos
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Vida&, p. A18
O alerta sobre o risco de uma epidemia mundial de gripe também foi dado ontem, coincidentemente, na Universidade de São Paulo (USP) pelo bioquímico Hernan Chaimovich. "Com sorte, teremos uma pandemia de influenza em cinco anos. Sem sorte, será em dois anos", disse Chaimovich, em palestra no Instituto de Estudos Avançados (IEA). "Claro que é possível que não aconteça, mas há um consenso internacional de que, muito provavelmente, vai acontecer." A transmissão das aves para o homem ocorreria a partir do cruzamento do vírus da gripe aviária (H5N1) com algum vírus mais comum da gripe, capaz de infectar seres humanos. A partir daí se formaria um vírus híbrido novo, desconhecido do nosso sistema imunológico. "Cálculos indicam que isso é muito provável", destacou Chaimovich, que é diretor do Instituto de Química da USP e conselheiro do IEA.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com a Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars) em 2003, também causada por um vírus respiratório e passada ao homem por um animal (a civeta). "Só que nesse caso seria muito, muito pior", disse Chaimovich.
A maneira pela qual a epidemia se espalharia e sua velocidade dependeriam de uma série de variáveis, relacionadas ao vírus, à localização do primeiro infectado e do contato dele com outras pessoas, principalmente.
DIFICULDADE
O preocupante é que a pandemia, uma vez deflagrada, seria de difícil controle. "Ainda não entendemos com clareza as doenças virais", disse Chaimovich. "Se entendêssemos, a aids já teria acabado."
As vacinas antigripais usadas hoje são baseadas no tipo de vírus predominante em anos anteriores. Não há vacina contra novas variedades.
Os vírus são organismos com alta capacidade mutagênica. Só do influenza são conhecidas 17 variantes (classificadas de H1 a H17). Aquelas que infectam galinhas normalmente não passam para seres humanos. Quando isso ocorre, há risco de epidemia.
A princípio, acreditava-se que um vírus híbrido só poderia se formar em porcos, capazes de abrigar tanto variantes humanas quanto animais. Nos últimos cinco anos, entretanto, surgiram evidências de possíveis transmissões diretas de aves para seres humanos.
Segundo o infectologista Celso Granato, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a transmissão poderia ocorrer pelo simples contato com o animal ou a partir de suas fezes. As galinhas, segundo ele, são infectadas pelo influenza humano, mas nas aves ele causa diarréia, em vez de gripe.