Título: Pandemia de gripe aviária pode estar próxima, alerta a OMS
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2005, Vida&, p. A18

GENEBRA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) manda o mundo se preparar para a eventual pandemia da gripe aviária e alerta: a contaminação de alguém em São Paulo pode ser mais fácil do que se imagina. "Caso o surto ocorra, basta um vôo entre Hong Kong e São Paulo para o problema chegar ao Brasil", afirma seu diretor-geral, Jong Wook Lee. O vírus da gripe vem atingindo quase exclusivamente animais. Mas em quatro países asiáticos - Indonésia, Camboja, Tailândia e Vietnã - 112 casos de contaminação de pessoas já foram registrados, com 57 mortes desde 2003. O problema é que cresce o número de países onde se registram casos do vírus na produção de frangos. Já são nove os atingidos pela gripe entre animais.

"Estamos vendo uma expansão geográfica do problema", diz Lee. A OMS admite que não sabe se essa transmissão entre animais e seres humanos se intensificará nos próximos meses, mas adverte que "todos os sinais de alerta estão surgindo". "Não sabemos quando a pandemia virá, mas precisamos nos prevenir, pois afetará dezenas de milhões de pessoas e poderá causar milhões de mortes. Seria uma grande irresponsabilidade deixar de tomar medidas", declara Lee.

Por enquanto, não há nenhum indício de transmissão do vírus entre pessoas, mas a hipótese não pode ser descartada, já que esse vírus, conhecido como H5N1, pode sofrer mutações.

Hoje, os 25 países da União Européia se reúnem para determinar que estratégia vão usar, se o vírus chegar ao continente. O temor é a proliferação de casos nos frangos da Rússia, na fronteira da Europa com a Ásia. Após a chegada do inverno ao Hemisfério Norte, o temor é de que a gripe possa surgir nos meses seguinte. "Caso ocorra, a pandemia não fará distinção entre pobres e ricos", alerta Lee. "Nenhum país está seguro."

O Brasil deve terminar em outubro um plano para ser posto em prática se o supervírus chegar. Algumas medidas essenciais para a contenção da epidemia no País já estão em andamento, como a criação de laboratórios capazes de identificar o vírus e redes sentinelas para detectar casos suspeitos. Argentina e Uruguai apresentam o mesmo nível de organização.

REMÉDIO

Para se prevenir, vários países ricos, como os europeus, Estados Unidos e Japão, começam a montar estoques de remédio. Em alguns locais da Europa, estima-se que os governos já os tenham para até 40% da população.

O problema é que o único medicamento potencialmente eficaz contra a gripe é o antiviral Tamiflu, da Roche, que detém sua patente. Ontem, a empresa anunciou que está doando 30 milhões de pílulas para o tratamento de uma eventual pandemia. Lee, apesar de agradecer à Roche, admite que essa quantidade seria suficiente só para os primeiros momentos de uma emergência.

Para que uma pessoa controle o vírus, precisa tomar dois comprimidos por dia por cinco dias. A proliferação da doença pelo mundo, portanto, exigiria muito mais pílulas. Questionado sobre se não seria a questão, então, de promover a quebra de patente do remédio para garantir que os países em desenvolvimento possam produzi-lo, Lee apenas respondeu que "não seria apropriado falar sobre isso no dia em que a Roche faz uma doação".

A Roche explica que há dois anos vem investindo na capacidade de produção do Tamiflu para fabricar o suficiente para atender a uma grande demanda. Na Suíça, sede da Roche, uma cartela dele custa quase US$ 70. Só no primeiro semestre, a empresa recebeu US$ 458 milhões em vendas do medicamento.

Indagado sobre se a doação não poderia estar apenas garantindo boa publicidade para a Roche, Lee respondeu que não via problema nisso. "O estoque de remédios poderá nos dar o tempo necessário para desenvolver uma vacina e outras medidas em caso de pandemia."