Título: Profissão: repórter sem mau agouro
Autor: Ivan Carvalho Finotti
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Aliás, p. J4

Joel Silveira começa e termina a entrevista com a mesma frase: 'Tenho horror ao Rio de Janeiro'. Não deixa de soar como uma vingança tardia. Afinal, foi esse mesmo Joel Silveira que, há mais de 60 anos, saiu do Rio e veio a São Paulo fazer uma reportagem que ridicularizou e traumatizou a burguesia paulistana da época. A matéria chamava-se 'Eram assim os grã-finos em São Paulo' e um de seus parágrafos destilava o seguinte: 'O chá na Jaraguá faz parte do ritual grã-fino. Lili não o dispensa. Zezé e Lelé fazem tudo, adiam tudo, mas não podem perder o chá na Jaraguá. O leitor, geralmente desprevenido, estará pensando, sem dúvida, que a Jaraguá é apenas uma casa de chá. Não. A Jaraguá também é livraria. A intenção era muito boa. Mas me parece que o grã-finismo está estragando o plano. A verdade é que a Jaraguá, que os seus idealizadores planejavam tornar imprescindível no mundo artístico e cultural de São Paulo, é hoje, apenas, mais um ponto de reunião do grã-finismo, um ponto onde Fifi marca encontro com Lelé para falar mal de Zuzu'. A reportagem (republicada em 2003 no livro A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista, Companhia das Letras), além de chocar os magnatas e os pais de Lili, Zezé e Zuzu, de quebra consagrou o jovem Joel.

Depois dela, Silveira foi apelidado de Víbora e contratado por Assis Chateaubriand, dono de um império de cerca de cem jornais, revistas, rádios e emissoras de TV. Cobriu a 2ª Guerra Mundial (suas crônicas foram reunidas este ano pela Objetiva no livro O Inverno da Guerra)e, na volta, dedicou-se à reportagem política.

Foi quando o sergipano Silveira passou a circular pelo Palácio do Catete, pela Câmara dos Deputados e pelos bares freqüentados por políticos. No Catete, enfrentou Getúlio Vargas.

Na Câmara, conheceu Juscelino Kubitschek ainda deputado, anos antes da Presidência. E, nos bares, bebeu com o recémeleito Jânio Quadros, com donos de jornais, com deputados e colegas. Seus artigos dessa fase estão em A Feijoada Que Derrubou o Governo, lançado no ano passado.

Na semana em que Lula diz que há setores da imprensa que são como aves de mau agouro, e diz ainda que não vai acabar como Getúlio e Jânio, mas terá o mesmo comportamento de Juscelino Kubitschek, é mais do que justo ouvir o velho jornalista. Hoje, quase cego, Joel Silveira não lê mais. Acompanha a crise pela televisão e pela leitura que sua filha lhe faz dos jornais.

Aos 86 anos, 68 deles vividos no Rio, a partir de 1937, recebeu o Aliás em seu apartamento de dois quartos em Copacabana, onde vive com a mulher, Iracema, 84, e cerca de 20 mil livros.

Depois de achincalhar a cidade ('Virou uma praça de guerra, comandante. Moro cercado dos morros do Pavão e Pavãozinho e toda noite tem tiroteio.'), falou dos presidentes, das crises que cobriu e da imprensa em geral.

Na sexta-feira, Lula disse que alguns jornalistas são aves de mau agouro. O senhor é?

Eu acho que o Lula tem de ser colocado para fora por dizer uma coisa dessas. Ele faz as falcatruas e bota a culpa na imprensa. Ora, a função dos jornalistas é divulgar. Isso é recurso de todo presidente em crise. Ao contrário, se não fosse a imprensa, ninguém teria sabido de nada disso. O Lula está em campanha pela reeleição, mas não vai ganhar. Já está desmoralizado.

Como o senhor avalia a cobertura da imprensa na atual crise?

A imprensa está se saindo de forma excelente. Foi a imprensa, o Estadão,a Folha e as três revistas que começaram a desvendar toda essa barbaridade.

Lula chegou ao poder e se empolgou. Poder corrompe, você sabe disso. E o Lula não estava preparado. E dizer que ele não sabia da corrupção - isso não me entra na cabeça. Claro que ele sabia. O presidente da República não saber o que está acontecendo no Brasil? Não só sabia como era conivente.

Como essa crise vai acabar?

Em impeachment eu não acredito. Agora, que o Lula não vai ser reeleito, isso não vai. Quem acabou com o Lula foi o Zé Dirceu. Esse homem é diabólico. Não deixava ninguém se aproximar, era prepotente, arrogante. Tratava a imprensa com o maior desprezo. Lula era sempre o último a saber. Foi um grande sindicalista. Mas como presidente não podia dar certo.Eu tenho a impressão de que no Palácio do Alvorada só tem uma virgem.

Uma virgem?

A biblioteca. É a única virgem no Planalto. Acho que Lula nunca entrou lá (risos).

Como era feita a reportagem política entre os anos 40 e 60?

A reportagem quase não existia. A maioria do material era transcrição de telegramas das agências internacionais. Não havia cobertura do dia-a-dia da política brasileira, a não ser quando aconteciam casos extraordinários. No meu entender, a imprensa do Brasil hoje é uma das melhores do mundo. Não só no noticiário como na paginação.

E como o senhor arrumava fontes que lhe passassem informação?

Eu tinha muitas fontes porque era cronista político na Câmara dos Deputados. Tinha amigos lá, e eles me informavam. No Catete, eu falava com o general Flores da Cunha, que fumava muito e sempre me jogava um charuto por cima da mesa. Eu tinha um apartamento na cidade, que aluguei para levar as namoradas. O general morava lá, no andar de cima. Ele descia para conversar, às vezes de pijama, com o charuto, contando histórias. Era uma fonte fabulosa, que se encontrava diariamente com o Getúlio. No prédio ainda moravam deputados e senadores, como o Ulisses Guimarães.

Lula disse na quinta que não repetirá Getúlio Vargas, que se suicidou em 1954. O que o senhor acha? O senhor conheceu Getúlio, não?

Tive um único encontro, e foi um desastre. Eu falei com o Lourival Fontes, então chefe da Casa Civil, e insinuei que era para pedir um emprego. Aí o Getúlio me recebeu. No fundo eu queria uma entrevista, e o presidente não estava dando entrevista de jeito nenhum. Foi quatro meses antes do suicídio. Ele me tratou muito bem. 'Oi, doutor Silveira, que prazer.' Eu disse que não era doutor, que tinha feito apenas até o segundo ano de Direito. 'Não, doutor é quem é douto em alguma coisa. E o senhor é douto em jornalismo.' (risos) A impressão que eu tive do Getúlio era a de um homem distinto, bem vestido, bem penteado, cheirando a lavanda inglesa. E conversamos até ele perguntar o que eu queria. Passei a ele um questionário e perguntei se ele poderia responder àquelas perguntas. Ele jogou o papel de volta e disse: 'O senhor trate disso com o senhor Lourival'. Levantou e foi embora. Nem estendeu a mão.

E no dia do suicídio de Vargas? Como foi a cobertura ?

Fiz a cobertura. Estava na porta do Palácio do Catete. Corria o boato de que ele ia renunciar. Mas ele se suicidou. Quase matam o Carlos Lacerda, que estava prestes a ser presidente da República. Eu ficava dia e noite na porta do Catete, sentado na calçada. De papel, caneta e máquina de escrever portátil. Não dava para entrar, havia uma barreira de soldados. Tinha de tomar um táxi para levar a matéria para o jornal e voltava. Eu dormia em um restaurante. Havia esse local no Largo do Machado, que se chamava Café Lamas, onde os estudantes se reuniam, ao lado da faculdade de Direito, onde estudei dois anos, bem perto do Catete. Ia lá jantar, juntava duas cadeiras e dormia um pouco. Foram uns dois meses terríveis.

Lula também disse, na quinta, que não fará o que Jânio fez, ou seja, não irá renunciar. Que tal?

Nada a ver. Jânio era meio doido. Eu não gostava do Jânio. Mas depois fiquei amicíssimo. Assim que foi eleito, ele foi fazer uma viagem a Londres num cargueiro de terceira chamado Aragon. Pois um dia o João Dantas, que era o dono do Diário de Notícias, me chamou e disse que o Aragon iria fazer uma escala em Las Palmas, nas Ilhas Canárias. Me mandou para lá de avião. Eu tinha a maior antipatia pelo Jânio. Achava um farsante, aquele negócio de passar talco no ombro para fingir que era caspa. Subi no barco e fiz um bilhete muito sucinto dizendo: 'Senhor presidente. Estou aqui, enviado pelo João Dantas, do Diário de Notícias. Caso o senhor queira falar comigo, estarei diariamente no bar a partir das 5 horas da tarde'. No primeiro dia, ele não apareceu. No segundo, sim. Era outro Jânio. Bem vestido, bem penteado, elegante. E veio dizendo (Joel faz voz esganiçada): 'Estás atrasado. Estás atrasado, jornalista!'

Que horas eram?

Pouco depois das 5. Mas o problema é que ele me esperou no bar da primeira classe, onde ele viajava, e eu estava na segunda. 'Marquei aqui, senhor presidente.'(Faz voz esganiçada) 'Mas era lá, era lá!' Aí o homem ficou encantador. Contou histórias, foi de uma elegância... Só não pagava nada. 'Botas na conta do João Dantas, que é rico!'

E o que vocês bebiam?

Uísque do melhor, só 12 anos. Ele gostava muito do Chivas Regal, mas não bebia Ballantines. E ganhava disparado de mim no copo, ganhava de dez a um. Mas eu nunca vi o Jânio Quadros bêbado, nunca perdeu a lucidez, não ficava com a voz melosa. Tomávamos duas, às vezes mais, garrafas por noite, e nada. Um espanto. Escrevi um livro sobre isso, Viagem com o Presidente Eleito.

E quanto ao Juscelino Kubitschek, de quem Lula acaba de dizer que quer copiar o comportamento?

É ridículo. Juscelino fez Brasília, povoou o meio-oeste. Claro que criou a inflação, mas o que ele gastou o Brasil já ganhou mil vezes de volta.

Osenhortambém conheceuJuscelino, não é mesmo?

Roubei uma namorada dele, a Osmarina. Juscelino não era presidente ainda; era deputado federal no Rio. As sessões estavam entrando até de madrugada, porque a Câmara estava discutindo a Constituinte. A moça era secretária do Juscelino e, uma madrugada, ela me pediu para levá-la em casa. Eram 3 horas da madrugada e não queria ir sozinha. Chamei um carro e levei. Isso aconteceu várias vezes. Fiquei sabendo que, além de secretária, era namorada. Aí o Juscelino foi eleito governador de Minas, e ela preferiu ficar no Rio comigo. Anos depois, quando Juscelino foi eleito presidente, nos encontramos numa conferência e ele perguntou: 'Como vai a nossa Osmarina?' 'Nossa, não, senhor presidente. Minha.' (risos) Ele era muito simpático e agradável.

Vocês investigavam a vida privada dos políticos?

De jeito nenhum. Havia decência. O único deputado cassado por falta de decoro que me lembro foi o Barreto Pinto, que era do partido do Getúlio. Caiu porque se deixou fotografar por Jean Manzon de cueca. Manzon tinha prometido fotografar apenas da cintura para cima, e não cumpriu o acordo. Mas a vida privada não era investigada. Isso não é jornalismo. Vale o que se faz no plenário. Eu condeno esse processo. Ninguém tem nada a ver com a vida privada. O que se passa dentro da sua casa é da sua alçada. O lar é inviolável. Quem fazia isso era a Gestapo.

Que crítica faria à imprensa hoje?

O erro principal, não só no Brasil, que tem acontecido algumas vezes nessa crise atual é manchetar uma acusação às vezes infundada. E, quando o jornal, revista ou emissora verifica que errou, a respostinha sai desse tamaninho, ó. Isso é um erro.

E o senhor? Admitia erros?

Mais ou menos. O maior fracasso da minha vida foi com o Hemingway, mas eu só contei a verdade bem depois. Foi assim. Estou em Paris com o Samuel Wainer. Eu já sabia que o Hemingway estava na cidade, mas não contei ao Samuel porque ele ia me chatear até eu fazer uma reportagem. E eu não queria trabalhar. Mas aí o Samuel viu uma notinha num jornal. 'Sabe quem está aqui?' 'Não.' 'O Hemingway!' 'O Hemingway está aqui?' 'É. Ele vai todo dia às 11 horas da manhã num bistrozinho. Toma o endereço e vai lá fazer uma entrevista com ele.' Ai, meu Deus do Céu, o que vou perguntar para o Hemingway?

O senhor falava inglês?

Não, mas ele falava muito bem espanhol e francês. Aí cheguei lá às 9 da manhã e comecei a beber, para tomar coragem.

O quê?

Conhaque.

Às 9 da manhã?

É. Ele chegou às 11. Quando eu vi aquele gigante, de dois metros... Puxa, ele nem falava com o garçom. Só fazia assim, com a mão, e já chegavam as coisas. De repente me veio uma coisa na cabeça: ele gosta muito de safári. Resolvi perguntar o que ele acharia de fazer um safári na Amazônia. Fui ao banheiro antes e, quando voltei, ele tinha ido embora. Caminhei para o hotel pensando no que ia dizer para o Samuel. Cheguei lá e soltei: 'Samuel, você é o jornalista mais desinformado do mundo! O Hemingway está na Espanha, Samuel. Foi há dois dias para a Espanha!' Foi a saída que arrumei para o meu grande fracasso. Porque, mesmo que o Hemingway me desse uma bofetada, já era assunto. Qualquer coisa era assunto em se tratando de Hemingway.

O senhor foi próximo de vários donos de jornal, não é?

De alguns. O Orlando Dantas, do Diário de Notícias, toda tarde me chamava: 'Seis horas lá, hein?' 'Lá' era o bar do Hotel Serrador. Ele bebia bem e não me deixava pagar. Pagava sempre. Mas não dava gorjeta a garçom, de jeito nenhum. Eu que dava escondido. Tenho ainda uma boa história com o Adolpho Bloch. Um dia ele me mandou a Jerusalém e disse: 'Vá ao Muro das Lamentações, escreve um pedido e coloca lá, que ele vai ser realizado'. Quando eu voltei, ele perguntou: 'O que você pediu?' 'Aumento, doutor Adolpho. Pedi aumento.' Aí ele virou para o secretário, desolado: 'Dê aumento a ele, dê aumento a ele' (risos).

E como funcionava a censura?

Na época do Estado Novo, a imprensa não tinha liberdade nenhuma. Era controlado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda. O DIP detinha o direito da importação do papel. E só dava papel e bobina aos jornais que fossem a favor do Estado Novo. Aos que não eram, 'ah, não temos, o estoque esgotou'.

Foi a censura que ocasionou as grandesreportagensde comportamento, hoje chamadas de jornalismo literário?

Talvez. Em Diretrizes eu fazia grandes reportagens, mas às vezes fazia umas entrevistas, e foi por causa de uma delas, com Monteiro Lobato, que a revista foi fechada pelo governo. Havia muito tempo que o Lourival Fontes queria fechar a Diretrizes. Mas não podia, porque a Embaixada americana ficou muito amiga da revista. E a todo escritor famoso que passava por aqui a Embaixada pedia que desse entrevista à Diretrizes. Aí o Samuel Wainer botava para quebrar. O Lourival não ia ter o topete de censurar uma entrevista com John dos Passos, por exemplo. Ficava uma fera, mas a entrevista saía.

Porque ele era americano?

Sim. E certo dia o Samuel pediu que eu fosse a São Paulo fazer uma entrevista com o Monteiro Lobato, que morava num chalezinho no Pacaembu. Era sobre literatura, Sítio do Picapau Amarelo, essas coisas. Mas o Lobato tinha horror ao Getúlio, já havia sido preso duas vezes, e quando comecei a perguntar sobre os livros ele disse: 'Jornalista, vamos deixar isso de lado. Vamos falar mesmo é de política'. E esculhambou o Getúlio. O título veio de uma frase dele: 'O voto deve sair do fogo como a fumaça da fogueira'. O Samuel leu: 'Ô diabo. Vai ser uma bomba, mas vamos publicar'. No dia seguinte não pudemos nem entrar na redação para tirar nossas coisas. Foi aí que fui para os Associados.

O senhor foi pedir emprego?

Isso mesmo. Eu fui ao Virgílio de Melo Franco, que trabalhava com Chateaubriand. Eu tinha publicado a reportagem dos grãfinos em São Paulo, que teve uma enorme repercussão. Foi a primeira vez que a Diretrizes tirou duas edições. Normalmente vendia uns 30 mil exemplares. Com essa reportagem vendeu 120 mil. O Chatô, depois que a leu, dizia: 'Virgilinho, me traga essa víbora para cá. Me traga essa víbora'. E, quando fui pedir o emprego, o Virgilinho, que era muito imperativo, disse: 'Não. Você já está empregado'. Me pegou pelo braço, entrou no carro e ordenou ao motorista: 'Sacadura Cabral'. Subimos ao gabinete do Chatô, ele me empurrou pelas costas e anunciou: 'Está aqui a víbora que você me pediu'. Fiquei apalermado. Nunca havia visto Chateaubriand, mas não gostava de sua maneira de agir. 'Senhor Silveira, o senhor é um homem terrível, senhor Silveira. O senhor é uma víbora, senhor Silveira! O senhor é uma víbora!'

E com o senhor acabou cobrindo a 2ª Guerra Mundial?

Já nos Associados, escrevi uma reportagem chamada 'O Clube das Vitórias-Régias'. Era um grupo de senhoras grã-finas que se reunia toda semana num clube português aqui no Rio. Era dirigido pela Iveta Ribeiro, uma integralista. Umas recitavam, outras levavam bolinho, entende? Aí eu comecei a freqüentar, mas não sabia que uma das vitórias-régias era amiga do Chatô, casada com o dono da SulAmérica, que dava muito dinheiro aos Associados. Ele ficou bravo. 'O senhor é víbora, senhor Silveira. O senhor atacou a Dona Rosalina, senhor Silveira! Dona Rosalina é uma dama, senhor Silveira!' Disse que não poderia saber e que o Carlos Lacerda, que era meu diretor, é que tinha me mandado fazer a reportagem. Tentei pedir demissão. 'Não, senhor, senhor Silveira. O senhor pensa que é assim, senhor Silveira? Aperta a mão, pede desculpa e vai embora? Não, senhor! Senta aí, senhor Silveira. O senhor vai receber um corretivo. Vai para a Itália matar alemão.' (risos) Foi assim que eu acabei na 2ª Guerra.

Foi um golpe do Lacerda?

Foi. Três repórteres queriam ir: o Lacerda, o David Nasser e o Edgar Morel. Eu era muito jovem, 26 anos, jamais tinha pensado nisso. E o Lacerda, para me botar longe, me pediu aquela reportagem contra as vitórias-régias. Mas não deu certo!

O que marcou nessa cobertura?

Havia na FEB (Força Expedicionária Brasileira) um sargento chamado Wolf, que fazia patrulhas para localizar o inimigo. Eu fui com ele, mas em determinado momento ele disse: 'Daqui você não passa. Tem muito alemão pela frente'. Imediatamente uma rajada de metralhadora matou Wolf e mais dois soldados. E pouco antes da patrulha ele tinha me chamado e dito: 'Correspondente, quer me fazer um favor? Escreva aí um bilhetinho para minhas filhas. Diga que papai vai bem e qualquer dia desses está voltando para lhes dar um beijo'. Escrevi uma crônica, que saiu em várias antologias, chamada 'Eu vi morrer o sargento Wolf'.

Mudou a cobertura de guerra?

Hoje você pode cobrir uma guerra como a do Iraque no seu quarto de hotel. Você está vendo pela TV ou pelo computador, tal o volume de informações. Antigamente, não. Você tinha de estar junto com os soldados, no meio, você era outro pracinha. Os correspondentes tinham o título de capitão para ter hospedagem, imunidade e pedir entrevistas a generais etc. Fui capitão de araque por 11 meses.

Obrigado pela entrevista.

Eu é que agradeço, comandante. Já te disse que tenho horror ao Rio de Janeiro?