Título: Sem controle, hábito se transforma em doença
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Vida&, p. A24

Quando quem consome excede sua capacidade de comprar, perde os limites e passa a acumular dívidas, o hábito se transforma em uma patologia, chamada de oniomania ou compra compulsiva. Um problema de difícil identificação, ainda mais num contexto onde o consumismo é aceito e incentivado. Há, porém, sinais. Se as compras são constantes e em grandes quantidades, se a prioridade for comprar em vez de cuidar da vida pessoal ou, ainda, se sintomas como irritação e ansiedade surgirem quando se deixa de consumir, algo está errado. Como a pessoa que, ao comprar uma camisa, leva outras cinco iguais, só pelo impulso, explica a psicóloga Tatiana Filomensky, do Ambulatório do Jogo e Outros Transtornos do Impulso (Amjo), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, que desenvolveu o primeiro grupo para tratar compradores compulsivos.

"Somos vistos pelo que temos e não pelo que somos. É provável que muitas pessoas tenham a doença sem saber", diz Tatiana. No Brasil, não há estatísticas, mas estimativas mundiais indicam para 8% da população, com prevalência de três mulheres para cada homem.

"Nas formas graves da doença a pessoa consome de forma repetitiva e crônica, não consegue se controlar. É o comportamento de qualquer outro adicto. E independe de classe social ou nível de informação. É uma forma de preencher vazios muito primitiva, interna e forte que nos leva a compulsões como essas", explica o psiquiatra e psicanalista David Zimerman.

É o caso do aposentado Marcato (ele pediu para não ter o sobrenome divulgado), de 57 anos, que leva uma lista para comprar só o que precisa e freqüenta o grupo de ajuda mútua Devedores Anônimos. "Tinha conta em cinco bancos, comprei coisas que nunca usei. Já cheguei a comprar oito ternos de uma vez."

Segundo especialistas, algumas dicas para fazer uma compra saudável são planejar o orçamento e não se deixar levar por promoções. Se, mesmo assim, a compra for compulsiva (ver quadro acima), vale pedir ajuda. Para entrar em contato com o Amjo o telefone é (0xx11) 3069-7805. Para falar com o DA há o celular (0xx11) 9885-7463.