Título: Mil presos iraquianos são libertados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Internacional, p. A16

O comando das Forças Armadas americanas no Iraque anunciou ontem a libertação mil prisioneiros da polêmica prisão de Abu Ghraib. A decisão dos militares americanos seguiu-se a um apelo que teria sido feito pelos membros sunitas da comissão de notáveis que redige a Constituição e endossado pelo governo. O comando militar americano recusou-se a vincular a libertação dos prisioneiros ao pedido. Mas analistas crêem que a medida pode aliviar um pouco a tensão no conturbado cenário iraquiano. Denúncias de tortura e humilhação extrema de presos iraquianos em Abu Ghraib no ano passado escandalizaram o mundo. E colocaram em xeque a ética que os EUA tentam atribuir a seus militares.

A libertação dos presos parece ter sido bem recebida pelos sunitas, minoritários no Iraque. Mas seus representantes na comissão continuavam ontem intransigentes quanto a um artigo defendido pelas outras duas correntes - xiitas (majoritários no país) e curdos (também minoria): a federalização do país.

Os membros da comissão tiveram uma ampliação de dez dias do prazo de conclusão do texto para chegar a um consenso, mas o impasse perdura.

O líder sunita,Saleh al-Mutlaq, reafirmou que a Carta, como está redigida, representa um sério perigo para a unidade nacional. Xiitas, no sul, e curdos, no norte, habitam regiões extremamente ricas em petróleo. Os sunitas estão espalhados pelas regiões central e leste, sem os mesmos recursos minerais. Tanto xiitas quanto curdos têm condições de aprovar a Carta no Parlamento sem a participação dos sunitas, mas enfrentariam a oposição sunita no referendo, previsto para outubro, que deve ratificar a aprovação.

PACIÊNCIA E SACRIFÍCIO

Diante do impasse, o presidente George W. Bush pediu mais flexibilidade aos líderes xiitas e curdos, que devem apresentar hoje ao Parlamento um rascunho da Carta. Bush teme que a aprovação de um texto sem apoio sunita agrave a crise política e institucional, tornando-a irreversível (ler mais sobre o Iraque na página A18). De seu rancho no Texas, ele dirigiu-se também aos americanos pedindo mais tempo, paciência e sacrifício para que as forças americanas possam concluir sua missão em território iraquiano.