Título: Alencar prepara vôo solo à Presidência
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Nacional, p. A5

Bem ao estilo mineiro, o vice-presidente da República, José Alencar (PL-MG), está procurando um partido para disputar a Presidência em 2006. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está às voltas com a mais grave crise que atinge seu governo, Alencar, que também ocupa o Ministério da Defesa, já iniciou conversas com o PDT, que, por sua vez, já se definiu pela candidatura própria no ano que vem. A busca por outra legenda esbarra na crise. O PL, conforme reconhece o próprio Alencar, teve a imagem "arranhada" por estar no epicentro das denúncias de Roberto Jefferson (PTB-RJ), que acusou os partidos da base aliada do governo Lula - condição na qual se encaixa o PL - de receber mesada em troca de apoio. O bombardeio de Jefferson levou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), a renunciar ao mandato de deputado.

Ao contatar dirigentes do PDT para, inicialmente, sondar a respeito da possibilidade de trocar de partido e embarcar na legenda, Alencar demonstrou preocupação com a crise, que já comprometeu a gestão de Lula e a imagem do presidente, que, segundo levantamento do Ibope, perderia hoje a eleição para José Serra (PSDB).

"O vice-presidente está preocupado com a crise e avaliando a possibilidade de trocar de legenda. Mas está procurando agir com cautela, discretamente", comenta um pedetista. "Ele admitiu que o PL sai muito chamuscado da crise, mas está respeitando o tempo dele."

O contato de Alencar com o PDT foi feito há cerca de um mês. Primeiro, o vice-presidente fez uma sondagem com o presidente do PDT de Minas, seu Estado natal e sua base política, Manoel Costa. Também teria trocado confidências com o líder do PDT na Câmara, Severiano Alves (BA).

BEM-VINDO

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, garante não ter sido procurado por Alencar. Manoel Dias, secretário-geral e tesoureiro do partido, também afirma não ter informações sobre as pretensões do vice-presidente, mas admite que ter Alencar no PDT seria uma honra. "Ele seria muito bem-vindo."

Lupi afirma que para ingressar no partido ele teria de deixar o Ministério da Defesa. "Seria complicado o PDT, que é oposição ao governo Lula, ter em seus quadros um ministro. Nos traria um grande embaraço", argumenta. "Saindo do ministério, a história é outra."

Além de Alencar, outros líderes políticos estão interessadas em mudar de partido, elegendo o PDT como primeira opção. Na lista dos que já deram sinais de interesse em ingressar na legenda, estariam o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), presidente da CPI dos Correios, e os senadores Cristovam Buarque (PT-DF) e Leomar Quintanilha (PMDB-TO).

Em relação aos planos do partido para o ano que vem, Lupi afirma que o partido costura com o PPS uma aliança "do bem" para disputar a Presidência em 2006. O PPS estaria disposto a oferecer o deputado Roberto Freire (PE) para integrar a chapa. O PDT, por sua vez, o deputado Alceu Collares (RS), o governador Ronaldo Lessa - que no entanto pretende disputar uma vaga no Senado - e o senador Jefferson Peres (AM). Embora tenham em mãos boas opções, dirigentes admitem que Alencar poderia ser imbatível.