Título: Parlamentares correm de uma comissão para outra
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Nacional, p. A7

Escravizante, quente, barulhento. A definição é do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), titular de duas CPIs, a dos Correios e a do Mensalão, para resumir o trabalho nas comissões parlamentares de inquérito. "O que eu podia fazer? Metade da bancada não quer ir para as CPIs!" O jeito é escolher uma e enviar um assessor para a outra, quando as reuniões coincidem. Se houver alguma votação de requerimento importante ou chegar a hora de inquirir um depoente, lá vai ele, chamado pelo celular. A vantagem é que as salas das duas CPIs são praticamente vizinhas, na ala Nilo Coelho do Senado. Mas até nisso a rivalidade prevalece: a sala dos Correios é maior. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), conhecido pela maneira dura como trata alguns depoentes, é outro polivalente das CPIs dos Correios e do Mensalão. Nas duas, costuma perguntar: "O senhor tem medo de quê? Então por que pediu habeas-corpus? É vítima ou cúmplice?" Ele gosta do trabalho dobrado. "A mistura das CPIs não importa, o que tem que ficar claro é que o governo está envolvido até o talo em corrupção e temos que apurar."

Titular dos Bingos e do Mensalão, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) também vê vantagens no acúmulo de funções. "Permite interligar os fatos e fica mais fácil formar o mosaico."

Nenhum parlamentar, porém, se equipara ao senador petista Sibá Machado (AC), titular das três CPIs. Seu papel é defender o presidente Lula, o governo e o PT. "A do Mensalão é minha prioridade. Depois, vem a dos Correios. Nos Bingos, minha atividade é quase zero. Meus assessores acompanham e me chamam, se preciso." Por que o Mensalão? "Porque lá os parlamentares são mais novatos e é um massacre em cima do PT. Chegaram a pedir o fim do registro do partido." Mas ele diz que está cansado. "Estamos numa fase de muito confronto com a oposição. Se não sair disso, sou eu que vou pedir para sair da CPI."