Título: Derrubado pelos 'maus fluidos', Duda Mendonça some de circulação
Autor: Biaggio Talento
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Nacional, p. A13

A CPI dos Correios tirou o bom humor do publicitário Duda Mendonça. O bonachão - que sempre espantou os "maus fluidos" com artifícios místicos como os símbolos do candomblé entalhados na porta de casa ou o curioso sistema a gás que "queima" as energias negativas na entrada de sua residência - está deprimido por ter sido arrastado para o olho do furação e obrigado a revelar o esquema de pagamento com dinheiro do caixa 2 petista, feito pelo empresário Marcos Valério. Duda gosta muito da Bahia, mas ultimamente é pouco visto em Salvador, onde mora num luxuoso apartamento do Edifício Mansão Costa Pinto, no Corredor da Vitória, endereço mais valorizado da cidade, com vista deslumbrante para a Baía de Todos os Santos. Adora ficar em casa, segundo os amigos, e foi nessa residência que instalou a porta de pinho, cujo projeto concebeu com o artista plástico Tati Moreno, após sua viagem a Santiago de Compostela, na Espanha, em 2000.

Moreno recebeu outra encomenda especial de Duda, que decora o pequeno lago próximo a uma cachoeira em sua mansão de veraneio na Praia de Taipu de Fora, em Camamu, sul da Bahia: uma imagem de Oxum, de quatro metros de altura em resina poliéster. "Ele é um típico baiano, místico, tem muita fé na religião católica e no candomblé", comentou Moreno. A mansão de Taipu de Fora é projeto do renomado arquiteto baiano Ivan Smarcevski e foi lá que Duda recebeu amigos como o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, além de vários ministros. A casa de veraneio é um refúgio ideal para o publicitário porque, devido à configuração do terreno, fica a salvo dos olhares curiosos. Desde que seu nome foi envolvido no caso do caixa 2 do PT, o publicitário se recusa a dar entrevistas.

Quando depôs na Polícia Federal de Salvador, um dia antes de ir à CPI dos Correios, deixou o prédio às 4h da manhã, evitando os jornalistas, e entrou apressado em um dos seus carros, uma caminhonete Toyota Hilux modelo 2005.

Duda também tem um sítio na região metropolitana de Salvador, onde guardaria seus galos de briga, paixão de menino (seu apelido nas rinhas era Sansão) pela qual está sendo processado no Rio e em Salvador. Processos "injustos e descabidos", segundo o amigo Gilberto Pimentel, dono do restaurante Paraíso Tropical, que se tornou famoso na capital baiana graças às celebridades que o publicitário sempre levou ao local. Pimentel chegou a ser preso em maio numa rinha de galo na orla de Salvador e, em depoimento ao Ministério Público do Meio Ambiente, confirmou ser um dos fornecedores de galos de briga para Duda.

Outro restaurante freqüentado por Duda em Salvador é o Trapiche Adelaide, num galpão à beira da Baía de Todos os Santos, na Ladeira do Contorno, onde funcionava o escritório de sua empresa havia alguns anos, antes de ser transferido para um andar do Edifício Oceania, em frente ao Farol da Barra.

Filho de um dos mais importantes pintores baianos do século 20 - Manoel Mendonça Filho -, o único publicitário brasileiro a ganhar seis Leões em Cannes, o prêmio mais cobiçado da propaganda mundial, também adora pesca oceânica e já disputou vários torneios. Amigo de pescarias, o publicitário Fernando Barros, diretor-presidente da Propeg, não vê Duda desde o depoimento na CPI. "Imagino que esteja precisando conversar com os amigos, mas ele não retornou minhas ligações", contou. Barros acha que Duda pode estar na sua fazenda de gado, na região sisaleira da Bahia, isolado. Ele diz que o novo hobby do amigo é a vaquejada, a versão nordestina dos rodeios. "Ele está preparando equipes para vaquejadas", afirmou, informando que Duda está escrevendo um livro sobre as brigas de galo, mas que não deve lançá-lo tão cedo.

Colegas baianos de Duda fazem questão de separá-lo de Marcos Valério. Dizem que "não são farinha do mesmo saco". O presidente da seccional baiana da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap), Sidônio Palmeira, enfatizou que Duda é uma pessoa "reconhecida nacionalmente como um profissional competente". Para o publicitário, "enquanto as empresas de Valério eram verdadeiras lavanderias de dinheiro, Duda realizou um trabalho e buscou receber o pagamento (referindo-se aos R$ 10,5 milhões que Duda admitiu ter recebido do PT no exterior)". "Se ele recebeu parte 'por fora' vai ter que se explicar com o Fisco, mas não é um negócio que envergonhe a profissão", comentou.

Mário Queiroz, assessor de imprensa e promotor de eventos, "não engole Duda" desde o ginásio, quando freqüentavam a mesma turma no Colégio Maristas de Salvador. "Pegaram ele na mentira depois do depoimento na CPI", acusa.