Título: Projeto é herança da mobilização de intelectuais
Autor: Edney Cielici Dias
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Metrópole, p. C6

As reuniões do grupo de intelectuais que concebeu o Departamento de Cultura ocorriam no apartamento do jornalista e antropólogo Paulo Duarte, na Avenida São João, desde o fim dos anos 20. "Em torno de uma mesa de granito, fria como uma mesa de necrotério, mas que se esquentava com vinhos bons", na descrição do próprio Duarte, começaram a ser esboçadas as idéias que levariam à criação do departamento, em 1935, e à proposta do veículo-biblioteca. O grupo estava decidido a inovar a pauta de ações de governo, que deveria se preocupar também com a divulgação das artes, pesquisas sociológicas e parques infantis. Desafios ainda atuais, em especial nas áreas mais pobres da cidade, onde ofertas de cultura e lazer, quando existem, são restritas.

Atualmente, na Vila São José, o ônibus-biblioteca chega a fazer 500 empréstimos de obras em quatro horas de atendimento. Em torno de clássicos da literatura, best sellers e livros paradidáticos, reúne-se um grupo fiel de leitores. Eles consultam estantes com certa intimidade, apropriando-se, no bom sentido, do que é público.

Débora de Souza Oliveira, de 31 anos, recorre ao ônibus desde o início dos anos 90, quando era estudante. Atualmente leva as filhas Bianca e Taís, de 9 e 10 anos. Ela sempre pega emprestado um romance e as filhas escolhem livros infantis e gibis. Também freqüentadoras assíduas, as amigas Samanta Gil da Silva e Daiane Fernandes de Souza, ambas de 12 anos, entraram numa fase de transição. Não se interessam mais pelos livros infantis: preferem histórias de amor. Na quarta-feira, também pegaram títulos para ajudar num trabalho escolar sobre capitalismo e socialismo.

Segundo a bibliotecária Miriam Minotti Menossi, são raros os problemas de extravio de obras. "A população de menor poder aquisitivo valoriza os livros, cuida bem deles."