Título: Servidora se divide entre PS e área das jazidas
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Metrópole, p. C1,3

Até a funcionária pública Maria Aparecida Paes Muniz, de 49 anos, recepcionista de pronto-socorro, arrisca-se no garimpo de Itariri. "Passei por dificuldades e resolvi ir até o Taquaruçu. Mas só ganhei pedrinhas miúdas e as mãos cheias de calos." Logo na primeira noite, teve de fugir da polícia. "Corri mata afora e acabei perdida. Encontrei uns garimpeiros conhecidos que me trouxeram de volta. Os policiais levaram tudo, até meu lanche e meu batom." Mas ela não pensa em desistir, se a situação se legalizar. Há 15 dias, trabalha durante 12 horas no PS e segue para o garimpo. Levou até a filha, de 19 anos. "Meu marido só não foi porque não agüenta. É muito sofrido."

Sílvia Simões Marcelino, de 20 anos, nunca se arriscou à noite. "Para mulher é ruim. Sobra muito pouco para nós. Só consegui coisa pequena." Seu dia é tomado pelo garimpo há um mês. "Fico 10 ou 12 horas lá. Vou de madrugada e volto à tardinha." Josilaine, que não revelou o sobrenome, vai junto. "Não se fala de outra coisa em Itariri. Nem fofoca tem mais." A cearense Maria de Oliveira, de 65 anos, há 58 na cidade, quer entrar na turma. "Sou aposentada e preciso melhorar a graninha."

Segundo os garimpeiros, há pelo menos 20 mulheres trabalhando em Taquaruçu e Igrejinha. Há crianças também. "Vamos tentar legalizar a atividade dos adultos, mas não podemos permitir o trabalho infantil de jeito nenhum. É crime", alertou o chefe do DNPM no Estado, Enzo Nico Júnior.