Título: Petrobrás em nova fase pode buscar poços mais profundos
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

Segundo o mercado são grandes as chances de estatal ter encontrado indícios de gás a 6,4 mil metros

O recorde de perfuração em busca de petróleo atingido pela Petrobrás há duas semanas pode inaugurar uma nova fase para a indústria petrolífera no Brasil. Segundo informações do mercado, são grandes as chances de a estatal ter encontrado indícios de gás natural a 6,4 mil metros de profundidade, na Bacia de Santos, fato que deve encorajar novas buscas por reservatórios abaixo da camada de sal que separa a rocha geradora do petróleo das reservas conhecidas atualmente. "Na maioria das bacias brasileiras existem objetivos mais profundos que só não foram atingidos até hoje por questões econômicas", afirma o geólogo Giuseppe Bacoccoli, 30 anos de experiência na área de exploração e produção da estatal, explicando que, desde a descoberta da Bacia de Campos, a Petrobrás se focou em objetivos mais rasos, que custam menos e têm risco menor.

Segundo ele, a profundidade média dos poços perfurados no Brasil é de 2,3 mil metros, com custo de cerca de US$ 20 milhões, enquanto um poço com 6 mil metros de profundidade pode chegar a US$ 50 milhões.

"A empresa então preferia fazer dois poços mais rasos do que um profundo", diz o geólogo. Ele fez um levantamento apontando que na bacia terrestre do Recôncavo Baiano, berço do petróleo brasileiro, por exemplo, apenas 14 dos mais de 1.000 poços perfurados foram abaixo dos 4 mil metros. "Eu, se tivesse uma companhia de petróleo, iria querer buscar reservas profundas por lá", brinca.

HIPÓTESES

A mudança de estratégia tem duas explicações, especulam especialistas. A primeira, e mais óbvia, é o alto preço do petróleo nos dias de hoje, que incentiva a busca por reservas antes consideradas inviáveis do ponto de vista econômico. A segunda é a necessidade por descobertas de mais reservas de gás natural, principal objetivo na Bacia de Santos. "A Petrobrás se comprometeu a suprir as térmicas, mas não tem gás para isso", destaca o geólogo.

Já há algum tempo, há uma corrente dentro da empresa que pressiona por uma postura mais agressiva - e arriscada - na área de exploração. O argumento é que, abaixo da camada de sal, estão as rochas geradoras do petróleo brasileiro e é possível que haja grandes reservas que não migraram para camadas mais rasas do subsolo. Além disso, o Brasil precisa descobrir cerca de 1 bilhão de barris em novas reservas por ano, para repor os volumes que extrai do subsolo. Hoje, as reservas brasileiras estão em torno dos 13 bilhões de barris, o que garante um consumo de apenas 17 anos sem a descoberta de novas reservas.

ALERTA

A Bacia de Campos, ao que tudo indica, está chegando ao seu esgotamento e a esperança está em Santos e Espírito Santo. A Petrobrás aposta também em bacias pouco conhecidas, como Barreirinhas, no Maranhão.

Mas a busca por reservas mais profundas é uma alternativa que deveria ser melhor avaliada, diz Bacoccoli. Em Campos mesmo, há quem diga que pode haver outra bacia do mesmo porte embaixo da que conhecemos hoje, responsável por 85% da produção nacional de petróleo.

Lá, há cerca de 500 poços buscando reservas entre 3 mil e 4 mil metros de profundidade, mas menos de 100 com profundidades superiores a 4 mil metros, aponta Bacoccoli.

PROFUNDIDADE

Alguns campos da região, principalmente os mais rasos, já extraem petróleo do pré-sal, mas ninguém ainda tentou atingir essa camada em grandes profundidades de lâmina d'água (distância entre a superfície e fundo do mar). Em Santos, por exemplo, o poço recordista foi perfurado por uma plataforma ancorada a 2.038 metros de lâmina d'água.

Com mais 4,4 mil quilômetros perfurando rochas, a estatal atingiu o recorde. O poço continua sendo perfurado e pode atingir mais de 7 mil metros. Parceiros da Petrobrás estão otimistas com o projeto. Embora nenhum comunicado de descoberta abaixo do sal tenha sido feito ainda à Agência Nacional do Petróleo (ANP) - a estatal já encontrou indícios com o mesmo poço, mas em profundidade mais rasa.

Tecnologia para produzir em altas profundidades há. Na Rússia, por exemplo, há produção em reservas a 8 mil metros de profundidade e existem empresas especializadas na operação de poços profundos. Além disso, quanto mais fundo, maior a pressão dos reservatórios, o que faz com que petróleo ou gás subam com mais facilidade.

"Se o resultado em Santos for positivo, abre uma fronteira exploratória gigante no País", arrisca o geólogo Márcio Rocha Melo. Não há, porém, previsões sobre quão grande seria essa nova fronteira, dado que só poderá ser obtido com muito trabalho e investimentos.