Título: Bruxelas volta a negociar acordo com Mercosul
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai tentam retomar diálogo interrompido em outubro de 2004 com a UE

Quase um ano depois de interrompida, a negociação para criação de um bloco comercial entre o Mercosul e a União Européia (UE) tentará ser retomada nesta semana numa reunião ministerial em Bruxelas. O objetivo tanto do lado brasileiro como europeu é voltar a debater como o processo pode ser iniciado. Mas se politicamente parece existir interesse pela retomada, os obstáculos comerciais prometem ser tão duros como há um ano. No caso do Mercosul, nem Brasil e Argentina se entendem quanto ao que deve ser oferecido aos europeus. A negociação foi interrompida em outubro de 2004, quando os dois blocos não chegaram a um acordo sobre a liberalização em setores como agricultura, indústria e serviços. Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve com o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, no Fórum Econômico de Davos. Ambos asseguraram que o debate continuaria para a criação do bloco. Mas, nos últimos meses, o debate passou a ser qual seria a base para a retomada das negociações.

Para a Europa, a base seria a melhor oferta de cada bloco em diferentes momentos das negociações. Na avaliação do Mercosul, a questão será saber se isso incluiria ofertas informais que jamais foram postas no papel.

Na quinta-feira, técnicos europeus e do Mercosul farão uma primeira reunião. No dia seguinte, é a vez de os ministros sentarem à mesa para tentar ressuscitar a negociação. O chanceler Celso Amorim e o ministro do Desenvolvimento, Luis Fernando Furlan, serão os representantes do País.

"Tudo indica que não teremos ofertas sobre a mesa esta semana. Trata-se, sobretudo, de uma reunião para dar uma mensagem política", afirmou o embaixador do Brasil em Bruxelas, José Alfredo Graça Lima, que está sendo removido para o consulado em Nova York.

A realidade é que os problemas continuarão a existir no setor agrícola, área de maior interesse para o Brasil. Os europeus não querem dar maiores cotas para a exportação de açúcar do Mercosul e não oferecem mais acesso em outros produtos enquanto não souberem o que terão de liberalizar nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Do lado do Mercosul, o bloco estuda oferecer maior acesso aos automóveis europeus. Mas o volume dificilmente será superior ao que já foi proposto aos europeus e, posteriormente, retirado diante da limitada oferta de Bruxelas aos produtos agrícolas. A proposta do setor privado é de redução gradativa das taxas de importação no Mercosul durante dez anos. Para que essa proposta se concretize, Brasil e Argentina ainda precisam de um acordo.

Representantes do Itamaraty dizem que os argentinos estariam criando dificuldades para que o Mercosul tenha uma proposta única.

Não por acaso, nem o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, se arrisca a dizer quando a negociação poderia ser concluída. Num documento em que a UE expõe sua agenda de prioridades para o segundo semestre do ano, Bruxelas ainda deixa claro que não aguarda nenhum avanço significativo nas negociações com o Mercosul neste ano.

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