Título: De olho nos lucros, bancários querem reajuste de 11,77%
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Índice embute aumento real de 5,77% e é reivindicação nacional da categoria, que tem hoje a primeira reunião com os bancos

Atentos para os lucros recordes dos bancos no primeiro semestre deste ano, os bancários, cuja data-base é setembro, estão em campanha salarial e têm hoje a primeira reunião com os representantes do bancos. Os cerca de 400 mil trabalhadores espalhados pelo País querem reajuste salarial de 11,77%. O reajuste se refere à variação de 5,69% do Índice do Custo de Vida (ICV) apurado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), acumulada em 12 meses até 31 de agosto e acrescida de um aumento real de salário de 5,77%. No ano passado, o reajuste oscilou entre 8,5% e 12,77%, dependendo da faixa salarial.

Segundo o secretário-geral da Confederação Nacional do Bancários, Carlos Cordeiro, a categoria reivindica participação nos lucros. "Só o Itaú e o Bradesco juntos lucraram R$ 5 bilhões no primeiro semestre."

Um dos pilares da argumentação dos bancários é o aumento da produtividade dos trabalhadores, além da forte pressão exercida pelos patrões para a venda de produtos e serviços.

FILAS

"Os bancos privados são os que sugam mais os trabalhadores no processo de venda de produtos para atingir metas", diz Cordeiro. Em contrapartida, ele observa que existe uma deterioração do atendimento nas agências, que pode ser constatada pelo aumento das filas na boca do caixa.

O pessoal empregado recuou de 230,7 mil trabalhadores no bancos privados em 2002 para 228,5 mil em 2003. Em compensação, houve aumento nos quadros dos bancos públicos de 167,3 mil para 170,6 mil em igual período.

Diante do novo posicionamento dos bancos para buscar receitas, a venda de produtos, a prestação de serviços e a receita com tarifas em relação ao gasto de pessoal atingiram no ano passado 125% entre os dez maiores bancos públicos e privados. Isto é, na média, essas instituições financeiras conseguem com a receita de serviços cobrir a folha de pagamento e ainda embolsar 25%.

Cordeiro destaca que, no caso do Itaú, essa relação entre receitas de serviços e venda de produtos e os gastos com a folha de pagamento era de 185,7% no ano passado, seguido pelo Unibanco, exatamente o banco que mais tem ampliado esse tipo de receita, com índice de 104,6%.