Título: Esboço de Carta não acalma Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Internacional, p. A10

Presidente anuncia que texto constitucional está pronto para o referendo de outubro, mas sunitas continuam insatisfeitos

Apesar da forte oposição dos grupos árabes sunitas, o projeto de Constituição do Iraque foi apresentado formalmente ao Parlamento. O presidente iraquiano, Jalal Talabani, afirmou que o texto, sem modificações, será submetido ao plebiscito de 15 de outubro. Para ser ratificado, o projeto deve ser aprovado pela maioria simples dos eleitores em todo o país, desde que não seja rejeitado por dois terços dos votantes em três ou mais províncias. Líderes sunitas pediram a intervenção da ONU e da Liga Árabe para evitar a aprovação do texto elaborado por uma comissão dominada por grupos xiitas e curdos. Segundo o deputado sunita Abdulnaser al-Janabi, um dos 15 membros sunitas da comissão, "todas as organizações da comunidade internacional devem impedir que o texto seja referendado".

Embora sejam minoria da população iraquiana, os sunitas dominavam a política do país durante o período de governo de Saddam Hussein. Eles se opõem ao atual projeto constitucional principalmente porque ele permitiria o estabelecimento de regiões autônomas nas áreas curda (no norte) e xiita (no sul), ricas em petróleo.

Saleh al-Mutlaq, outro membro sunita da comissão constitucional, anunciou a convocação de uma convenção nacional das forças políticas opostas ao texto apresentado ontem. E advertiu que se o projeto de Constituição for assinado "contra a vontade do povo", a violência aumentará no país. Por outro lado, lembrou Mutlaq, se o texto for rejeitado no referendo, "o processo político sofrerá um grande atraso".

Pelo cronograma estabelecido pelos americanos ao entregar o poder para um governo transitório iraquiano, a Constituição deve ser aprovada no referendo de outubro. A Carta deve estabelecer as regras das eleições gerais previstas para 31 de dezembro.

Talabani pediu apoio da população ao texto. Sobre a possibilidade de a Carta sofrer emendas no futuro, ele declarou que "não há livro tão completo que não possa ser emendado, com exceção do Alcorão".

O presidente iraquiano lembrou que a rejeição dos árabes sunitas à minuta apresentada "é parte do jogo democrático". "Não há Constituição no mundo que seja aceita por toda a população", completou o primeiro-ministro, Ibrahim al-Jaafari.

Em Crawford, no Texas, o presidente americano, George W. Bush, expressou sua decepção com a recusa dos sunitas em endossar o texto. Mas saudou o espírito do projeto "que contempla liberdades fundamentais como a de religião, reunião, consciência e expressão". "Mas podemos esperar o aumento das atrocidades nos próximos meses, pois o inimigo sabe que sua grande derrota está na expressão de um povo livre", disse Bush.

VIOLÊNCIA

Um técnico de som da agência Reuters morreu ontem em Bagdá quando cobria um tiroteio entre insurgentes e soldados americanos.

Um cinegrafista da agência ficou ferido. De acordo com a polícia iraquiana, os dois foram alvejados pelos militares dos EUA. O chefe do escritório da Reuters em Bagdá, Alastair MacDonald, disse que o cinegrafista ferido foi detido pelos americanos e, passadas 12 horas do incidente, ainda não tinha sido libertado.