Título: Relator propõe amanhã cassação de 18
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Nacional, p. A5

Serraglio garante que, apesar de pressões, não vai tirar nome de nenhum deputado do parecer que entregará à CPI dos Correios

O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), apresentará amanhã o relatório que pede a abertura de processo de cassação do mandato de 18 deputados, por envolvimento com o esquema de corrupção montado pelo PT. Se aprovado, será enviado à CPI do Mensalão, encarregada de investigar a compra de votos - tanto para a aprovação de projetos de interesse do atual governo quanto para a emenda da reeleição, em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Figuram na lista de Serraglio deputados que são ou foram influentes no Congresso ou no governo. Entre eles 7 petistas - que incluem o ex-ministro José Dirceu (SP), o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e dois ex-líderes na Câmara -, e outros 11 parlamentares de cinco legendas, dois deles presidentes de partidos: Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE).

Serraglio admitiu que vem sofrendo pressões para retirar alguns nomes de sua lista. "Ela (a pressão) vem de todos os lados", contou. Sem dizer os nomes de quem o procurou, ele garantiu que não recuará.

COMPETÊNCIAS

Por intermédio dos líderes que restaram, certos deputados tentam demover Serraglio com o argumento de que não foram ouvidos pela CPI. O relator tem respondido que essa função não é dele e os casos de parlamentares acusados de envolvimento com corrupção são da competência da CPI do Mensalão.

O senador tucano Álvaro Dias (PR) quer incluir na lista dos candidatos à degola o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que renunciou no início do mês para fugir ao processo de cassação - e assim manter seus direitos políticos. A Constituição determina que, uma vez aberto o processo no Conselho de Ética, o ato da renúncia não salvaguarda mais os direitos políticos, que ficam suspensos por 8 anos em caso de condenação. Dias alega que Costa Neto ainda é presidente do PL.

Não é só a abertura dos processos de cassação, porém, que causará mais agitação nos próximos dias. As CPIs dos Bingos e do Mensalão prometem muito movimento, com depoimentos terça, quarta e quinta-feiras.

NOVOS DEPOIMENTOS

A dos Correios ouvirá na quarta-feira os dirigentes da corretora Bônus-Banval - Emivaldo Quadrado, Bruno Fishburger e Ubirajara dos Santos Macieira - e o presidente da Guaranhuns, José Carlos Batista. Pelo que já se viu, o dinheiro do PP era repassado pela Bônus-Banval; e o do PL, pela Guaranhuns.

A CPI dos Bingos ouvirá amanhã o advogado Enrico Gianelli, ex-procurador da GTech, acusado de intermediar o contato de Rogério Buratti com dirigentes da multinacional, e Juscelino Dourado, chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ele é suspeito de ter aberto as portas do ministério para empresários dos jogos.

Na quarta-feira será a vez dos depoimentos de Denivaldo Henrique Almeida, conhecido por Professor Henrique, do ramo de jogos, e Roberto Lopes Telhada, advogado de Buratti. Na quinta-feira, a CPI dos Bingos deve ouvir o depoimento de João Francisco Daniel, irmão do petista Celso Daniel, assassinado em 2002, quando era prefeito de Santo André (SP).

A CPI do Mensalão ouvirá amanhã o proprietário da empresa Guaranhuns, José Carlos Batista. Para a quarta-feira foram convocados os presidentes de três fundos de pensão: Sérgio Rosa (Previ, do Banco do Brasil), Wagner Pinheiro (Petrus, da Petrobrás) e Guilherme Lacerda (Funcef, da Caixa Econômica Federal). Na quinta-feira, será a vez de João Cláudio Genu, tesoureiro do PP e assessor do deputado José Janene.