Título: 'FHC não tem autoridade'
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Nacional, p. A6

Chinaglia reage a crítica de que crise atingiu coração do governo

Os petistas reagiram de modo diferenciado às declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, feitas ao Estado, de que a crise atingiu o "coração do governo". Para o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o ex-presidente "não tem autoridade" para criticar o PT, por suas conexões com bancos privados, como mostra o esquema montado por Marcos Valério junto ao BMG e ao Banco Rural. "Essa situação é inédita para o PT, mas não para o País", disse. "Há provas de que esse método de campanha e de relação com bancos privados foi inaugurado em Minas Gerais pelo PSDB e envolve o atual presidente da sigla, senador Eduardo Azeredo", completou.

Na opinião do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), "nenhum partido detém o patrimônio da ética ou o monopólio das virtudes". Para ele, deveria, Fernando deveria analisar a crise com mais humildade.

Integrante da esquerda do PT, o deputado Chico Alencar (RJ) chega a concordar com parte da avaliação do ex-presidente sobre a transformação do PT numa máquina eleitoral, que o assemelha mais aos partidos americanos do que às organizações socialistas. "Há um elemento de verdade nisso, mas ele tem o olhar muito focado", disse. "Existe um PT ainda vivo, que mantém aquela mística de fazer a aproximação entre o espaço institucional e o movimento dos trabalhadores."

Segundo Alencar, a onda de desqualificação do PT leva as pessoas a esquecerem a história do partido e o esforço para que retorne às origens. "A crítica do FH é sempre comprometida, porque ele é, ao mesmo tempo, sociólogo e ex-presidente que aspira voltar ao poder."

Os petistas consideraram exagerada a avaliação de que se trata da maior crise da história republicana. Para eles há vários outros episódios mais graves no século 20, nos de Artur Bernardes, Júlio Prestes e Juscelino Kubitschek.

"Todos têm o direito de fazer a sua análise", observou Chinaglia. "Mas no caso do Fernando Henrique, mais do que analisar, ele quer comemorar a situação difícil do PT."