Título: Ministro é vaiado em debate do PT
Autor: Edmundo Inagaki, João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Nacional, p. A6

Paulo Bernardo tentou, em Curitiba, representar Tarso Genro, que promete definir 'nos próximos dias' se concorre ou não

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, teve de abandonar, debaixo de vaias, o debate entre os candidatos à presidência nacional do PT, ontem à tarde, em Curitiba. Realizado em um hotel no centro da cidade, o debate reuniu cerca de 300 militantes petistas. "Não dá para ser com essa gritaria. Isso não vai esclarecer ninguém", disse o ministro. Paulo Bernardo representava o presidente do PT, Tarso Genro, e candidato do Campo Majoritário, junção de tendências que controla o partido."Recusaram nossa participação dizendo que o regimento interno não permite substituir o debatedor."

O protesto, garantiu o ministro, não abala a confiança do Campo Majoritário. Ele atribuiu a hostilidade a grupos no interior do partido que pretendem passar a idéia de que são radicais. "Ser radical não é agredir ninguém. É ter idéias de mudança e transformação. Não precisa fazer espalhafato."

Tarso deve decidir até amanhã se concorre no processo de escolha direta dos dirigentes petistas, marcado para 18 de setembro. "A definição ocorrerá nos próximos dias", disse o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que está cotado para substituir Tarso como candidato.

O presidente do PT foi para o Rio Grande do Sul no fim de semana para refletir sobre seu futuro no partido e deixou também de participar de debate na sexta-feira, em Porto Alegre. Para permanecer candidato ele exige que o deputado José Dirceu (PT-SP) desista de integrar a chapa ao diretório nacional pelo Campo Majoritário.

Dirceu, porém, se recusa terminantemente a renunciar. Alega que politicamente isso representaria um tiro de morte, quando ele tenta se salvar de um iminente processo de cassação na Câmara. O ex-ministro-chefe da Casa Civil tenta articular a substituição de Tarso pelo assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia.

Por não ter dobrado Dirceu, Tarso havia decidido deixar a chapa na semana passada, mas foi convencido a fazer novas tentativas. Na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe pediu para não desistir de comandar o PT.

Tarso de novo ampliou o prazo. E deu mostras de que ainda pode manter a candidatura. Na noite de sexta-feira, falando para cerca de mil pessoas num ato promovido pelo diretório do PT de São Paulo em defesa do governo Lula, ele fez um desabafo e encampou o discurso dos que vêem na crise uma grande conspiração contra o governo: "Temos vergonha, sim, dos nossos erros, daqueles que saíram da ética partidária. São companheiros que erraram e vão ter de pagar. Mas não é a essas pessoas que são endereçadas as críticas e o circo político. O que eles querem é cercar o governo Lula", afirmou no discurso.

FOGO CRUZADO

Mesmo com essa mudança no discurso, Tarso está sob fogo cruzado. Em Curitiba, foi atacado por todos os candidatos. "O Campo Majoritário não tem direito de passar por cima das instâncias do partido", afirmou o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, da tendência Ação Popular Socialista.

Tarso foi criticado também por ter dito que não encontra argumentos para convencer alguém a votar no PT. "Há dirigentes importantes que não conseguem nem lembrar argumentos para dizer a uma jovem de 17 anos porque votar no PT", reagiu Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.

O candidato Markus Sokol, da tendência O Trabalho, pediu o retorno ao manifesto original de fundação do PT e disse não estar "à procura de Messias, nem de calças nem de saias". O deputado estadual gaúcho Raul Pont, da tendência Democracia Socialista, afirmou que o PT deve fazer um debate programático e buscar entender "como se chega a um Marcos Valério".