Título: BID apura desfalque de US$ 400 mil
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) encaminhou para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos informações sobre um desfalque "de centenas de milhares de dólares" dado por um de seus empregados em seus fundos administrativos. Segundo um comunicado publicado no site da instituição, na sexta-feira, a entrega do caso às autoridades americanas foi decidida por recomendação de uma comissão interna de supervisão sobre fraude e corrupção. Inédita nos 46 anos de história do BID, a decisão sugere prática de crime financeiro na sede do banco em Washington, o que coloca o caso na alçada da justiça federal americana.

O BID informou que "não pode fornecer informações adicionais" porque o caso está sob investigação. O episódio é o primeiro desse tipo na história de 46 anos do banco. Ele veio à luz num momento delicado de transição do comando da instituição. Eleito presidente do BID no mês passado, o colombiano Luiz Alberto Moreno substituirá o uruguaio Enrique V. Iglesias no início de outubro.

De acordo com pessoas que vinham investigando o caso fora do BID e insistindo em esclarecimentos, o funcionário sob suspeita chama-se Otto Gutierrez, é cidadão da Costa Rica, trabalhava há 17 anos no banco e ocupava a posição de chefe da seção de contabilidade do Departamento de Finanças quando o crime foi detectado e denunciado por um outro funcionário, durante um período em que substituiu o autor do desfalque. As mesmas fontes disseram que o montante do desfalque pode chegar a US$ 400 mil e teria ocorrido ao longo de um extenso período de tempo, por meio de transferências ilícitas de pequenos montantes para uma conta bancária pessoal do chefe da contabilidade.

Aparentemente, Gutierrez mantinha alguns fundos em contas remuneradas durante alguns dias e transferia parte dos ganhos para si próprio. O suspeito foi afastado e já teria retornado a seu país. A fraude ocorreu na área de jurisdição da vice-presidência ocupada há um ano pelo economista brasileiro João Sayad, que responde pela administração de finanças do BID e mandou apurar a denúncia. No mês passado, Sayad perdeu para Moreno a disputa pela sucessão de Iglesias.

Moreno, presidente eleito do BID, fará uma visita de dois dias ao Brasil na próxima semana. O objetivo da viagem é desanuviar a atmosfera carregada após a disputa pela direção do banco com Sayad, candidato do Brasil. A agenda em Brasília foi preparada pelo diretor executivo do Brasil no BID, Rogério Studart. Atual embaixador de seu país em Washington, Moreno deverá ser recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de reunir-se com os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, que é o governador do Brasil no BID, da Fazenda, Antonio Palocci, e de Relações Exteriores, Celso Amorim.